domingo, 26 de outubro de 2025

A primeira crônica.

 

A primeira crônica.

      — Mas que calor é esse! Será que existe vida após 3.020?

     O mês era junho. As folhas caíam... mas a temperatura não diminuía. Ao olhar para trás, o estudante percebeu que, no começo da estação, provavelmente entre os dias vinte e cinco e trinta de março, dissera similar expressão. Porém, já passava da hora de o tempo mudar... E realmente notavam-se novos ares, mas não os naturais e esperados por toda a população.

     As emergências e os impactos crescentes também castigavam todos os outros países, sem exceção. Os primeiros a captarem tais presságios foram os animais, ocasionando um fluxo migratório contínuo e desordenado para regiões atípicas do mundo. Tempos depois, algumas áreas que persistiam em permanecer geladas derretiam-se cada vez mais, reforçando as falas de especialistas e, enfim, amedrontando (ainda que por consequência direta do dinheiro e do “desmatamento natural”) até os mais poderosos e céticos. Uma vez que os recursos biológicos se espalhavam, as florestas careciam de agentes para polinizar as plantas, e, gradativamente, reduziam-se em hectares.

     Isso tudo, porém, acontecia em segundo plano, e não afetava de forma relevante e notável as camadas mais baixas e as pessoas comuns. Mas, enquanto o cenário externo se modificava, poluições na água e no ar eram percebidas a olho nu, fruto do tal derretimento das calotas polares, alterando significativamente os índices de acidez e alcalinidade dos oceanos. Devido ao esperado desenvolvimento da humanidade, não se conseguia conter o lixo nem o desperdício que tantas mãos e bocas cometiam diariamente. A Terra já sentia aqueles reflexos e respondia com enchentes e clima extremos, mas a virada do terceiro para o quarto milênio mostrou que o problema não era mais tão simples de se resolver somente não deixando papel no chão para entupir bueiros. A estratégia era boa e louvável, exigindo sim mais comprometimento, mas era humanamente impossível varrer todas as praias a catar latinhas e restos de um turismo negligente. Os oceanos choravam, e o jovem estudante engolia um seco com o futuro incerto.

     — Se ninguém fizer nada... será inútil! — Seus olhos reclamavam das luzes da tela do computador, mas ele não deixava de ler as últimas notícias. Queria terminar logo aquele artigo para seu curso de faculdade, e o antigo relógio de madeira da parede de seu quarto batia tic tac, coordenando o ritmo acelerado do pulsar de seu coração. — Não... Claro... as pessoas fazem... e sempre existiram almas que fizeram a diferença. Isso podemos ver em campanhas de conscientização e programas como “voz dos oceanos” ou “vigilantes da natureza”.

     E ele se animou, puxando pela memória o que já tinha sido feito para tentar amenizar os problemas. Em 2.098, a intensificação das mudanças climáticas e o aumento do nível do mar impulsionaram a implantação e a manutenção em larga escala de diques móveis como reforço às barragens existentes, protegendo áreas costeiras das enchentes cada vez mais frequentes. Alguns cem anos mais tarde, a biotecnologia deu novo fôlego às técnicas de plantio e reflorestamento, que juntas permitiram o cultivo de árvores geneticamente adaptadas a ambientes extremos, recuperando áreas degradadas e mitigando os efeitos do desequilíbrio ecológico. Como um projeto ambicioso, mas essencial, após décadas de pesquisas e debates éticos, foi implementado — ainda que em escala reduzida — o "Céu de Diamantes", uma tecnologia atmosférica inovadora que utilizava nanopartículas de diamante sintético para refletir a radiação solar e aliviar os impactos do aquecimento global. Todas aquelas ações, que se ampliavam e se ajustavam constantemente aos novos desafios, eram resultado da ação humana diante de um cenário crescente de dificuldades. Embora baseadas na ciência e em soluções práticas do “novo normal”, tais iniciativas acabavam por se assemelhar a feitos extraordinários, quase impossíveis e inimagináveis, diante da magnitude das forças naturais envolvidas.

     Os conhecimentos prévios do curso e os artigos lidos na tela eram, embora verdades que os meros humanos quisessem esquecer, vívidos e imponentes para todos. Aproveitou o silêncio e, já que não conseguiria dormir graças ao calor, sentou-se à mesa de madeira e buscou adiantar o trabalho. Escrever lhe relaxava, além de ser uma espécie de terapia.

     Procurando por imagens, achou na internet uma colagem que unia as contemporâneas sedes dos quatro grandes laboratórios do clima, localizadas em pontos estratégicos pelo mundo. Eram fortalezas totalmente tecnológicas e de alta engenharia, cada uma com sua arquitetura própria, a fim de refletir a identidade e os desafios climáticos da região onde estavam instaladas.

     O fogo e o calor eram estudados na Sicília, especificamente ao lado do Monte Etna. Em comparação, foi o centro de pesquisa menos oneroso para ser erguido, e grande parte de suas atividades era feita aproveitando-se a geoarquitetura ambiente, com câmaras e instalações literalmente dentro do vulcão. Seus trabalhadores e diretores não teriam, de fato, como escapar das altas temperaturas, que eram ainda mais acrescidas com o passar dos anos. Para garantir a segurança, todos os colaboradores e visitantes usavam roupas especiais, inspiradas nos trajes de brigadistas de incêndios extremos, além de máscaras modernas e respiradores portáteis. Extensas paredes de vidro cerâmico, capazes de resistir a temperaturas entre 700°C e 1.400°C, separavam com precisão os caminhos da lava e as passagens humanas. O projeto baseava-se em colunas e arcos, o que favorecia a ampliação de seus corredores, permitindo rotas rápidas de evacuação. Por fim, compridas vidraças captavam e filtravam luz solar, enquanto turbinas eólicas e painéis solares garantiam a autonomia energética.

     O laboratório do bioma aquático apresentou um desafio maior, graças à terra seca e à constante perda de recursos. Muitas seriam as opções, mas os possíveis e exorbitantes gastos, aliados à real vontade política da época, retardaram sua inauguração. Contudo, a Amazônia foi a região escolhida, dita “pulmão do mundo” ainda naquele quarto milênio, apesar de suas áreas duramente castigadas. Optou-se por instalá-lo à margem do afluente Solimões por dois motivos bem simples: devido ao seu encontro com as águas escuras do Rio Negro, conservando seu persistente volume; e, o que era mais preocupante, por sua atual aparência, agora mais homogênea e com o pH alterado. Os dois amigos aquáticos ainda se abraçavam, e supercomputadores confirmavam a esperança por conseguirem captar resquícios que os humanos não poderiam notar, mas a característica coloração se tornava clara conforme a decomposição liberava mais carbono na atmosfera em vez de dissolver-se na água. Era o polo que exigia a maior concentração de cientistas, e as demandas do ecossistema ditavam um trabalho constante in loco. Para tanto, os agentes construíram casas e refizeram suas vidas à margem do rio, reforçando a sede e as construções com plataformas flutuantes, sustentadas por uma complexa engenharia de autorregeneração. Ali, exercia-se também a comunhão e a solidariedade, necessárias para a manutenção de qualquer espécie.

     O país escolhido para o grande e inovador centro de pesquisa do ar foi o Japão, mais especificamente sua antiga capital, Tóquio. Os nipônicos sofriam muito com as mudanças climáticas... mas a resiliência e a disciplina do povo, interligada de um jeito harmônico e saudável à sua tecnologia, superava qualquer crise de maneira invejável. A fim de diminuir os custos, utilizaram uma resistente construção da cidade, a Tokyo Tower, visando já a sua aerodinâmica em formato de V. Revestiram os geométricos espaços vazios da estrutura com vidros refratários que se assemelhavam a diamantes, adicionando detalhes à obra para automaticamente filtrar o ambiente e purificar a ocasional toxicidade ao redor. Impulsionados pelo desejo de mudança, os avanços em Física Gravitacional fizeram a torre, com mais de 200 metros de altura, levitar. Projetada anteriormente para fins turísticos, a construção transformou-se em uma moderna nave espacial, cruzando os céus da metrópole e alcançando distâncias ainda maiores. Ela desempenhava um papel crucial no controle atmosférico, enquanto enriquecia o paisagismo urbano e renovava os ânimos de todos que a viam.

     Por fim, a Terra era estudada em Sant’Andreas, aproveitando-se do histórico e das temidas previsões acerca de sua falha. Temendo algo próximo e de grandes proporções, o polo foi um dos primeiros avanços a ser concluído, servindo não apenas como base, mas também como estrutura capaz de abrigar expansões e novas fortificações, dada a vasta extensão geológica da área. Os terremotos aumentavam a frequência e magnitude nas regiões onde já eram frequentes, e barulhos estranhos e cada vez maiores podiam ser ouvidos em países que, antes, não tinham que se preocupar com aquilo. Porém, sempre existiram males que viriam para bens: ao reforçar os estudos sobre atividades sísmicas, cientistas conseguiram direcionar forças de tremores para potentes e resistentes máquinas espalhadas por todo o globo, com maior concentração no estado da Califórnia. Seguindo a comprida falha, uma hermética contenção de aço reforçado cobria toda a área, e pelas margens esquerda e direita foram anexadas em pontos específicos construções circulares nas quais os empregados trabalhavam. Grandes e maciças torres escuras eram colocadas do lado externo e ao redor dos círculos, abrigando rápidos computadores munidos de inteligência artificial para prever abalos e ajudar na absorção dos impactos.

     — Muita coisa para escrever. Muita coisa ainda está por vir... — Cansado de tanto ler e pensar em cenários possíveis, nem mesmo o calor conseguiu mantê-lo acordado. Fechou as janelas, pois poderia chover de repente, e ligou o ar-condicionado.

     A luz da tela se apagou automaticamente assim que voltou para cama, e o frio artificial que agora fazia no ambiente interno deu-lhe a sensação de estar vivendo no passado, sem maiores preocupações. Faltavam poucas horas para reiniciar a rotina, e nos próximos dias ele teria atividades presenciais à faculdade, o que comparou com a necessidade que todos teriam de uma participação ativa e consciente no mundo. Constantes seriam as incertezas e recorrentes os desafios, mas, para cada adversidade, a humanidade conseguia sim trazer uma nova, ou até mesmo inovadora resposta, para se reinventar. Existira, sim, vida após 3.020... só que em um padrão diferente, talvez. Permitiu-se sonhar, e os sonhos ecoavam em possibilidades.



Davi Dumont Farace.

Fevereiro / 2025

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Avalanche!

 

     — Caso abras o bico, ou ouses, de mesma forma, colocar isso em alguma composição por aí, não duvides tu de que saberei. Reluto-me, mas, devido ao contexto e ao passado, espero poder contar com a tua discrição.

     O cavaleiro estava à casa do homenzinho petulante, e à sequência iria confiar-lhe um fato que lhe ocorrera em uma de suas andanças, especificamente no estreito gelado entre o memorável cenário outonal e as terras de ventos e espirais mais fortes que serviriam de morada para dois dragões deveras antigos, tão enigmáticos e divinos que suas existências oscilavam, para muitos, entre a dúvida e o medo. Ninguém em sã consciência cogitava ir para lá, e os heróis que tentavam desobedecer a ordem do destino ponderavam de última hora os agraves e as recompensas da viagem, preferindo ficar à segurança de suas lutas já conhecidas. O cavaleiro não era de traçar paralelos, mas via o mapa até a casa do circense como um de seus “desafios”, pois teve de se despojar de ego e altivez para misturar-se ao que havia de mais incerto e tolo segundo ele.

     Devido aos tempos sombrios que ainda não pressagiavam mudanças, inclusive o lar do ex-servidor real era escondido, de difícil acesso, no interior de uma floresta de troncos grossos, alguns espinhos e densas névoas. No entanto, ter uma imensa gárgula no quintal não era uma coisa que se podia de fato “esconder”, além de a criatura se relutar a vagar e descansar no Mundo Cerúleo de vez em quando.

     Ele esperou com que a inusitada guarda-costas se afastasse, protegendo e dando como certa a caçada da companheira do amigo. Ficou feliz pelo homem ter encontrado alguém, certamente com a paciência, ou uma fingidez necessária, para aturar o gênio fora dos padrões. Devia ser a parte “mais objetiva e certa” do casal. Que bom, então!

 

v   

 

     Hesitou diante da porta, mas anunciou sua chegada. Era uma tarde de verão, e o dono da residência estava, como o previsto, enfurnado ao seu ofício de escritor.

     — Não... espera aí! Conheço esse toque. — A escrivaninha onde escrevia ficava de costas para passagem e à frente de uma janelinha, de onde se via sua bela e rica plantação de hortaliças, sobretudo alfaces e abóboras, que compondo o conjunto da obra, certamente renderia prêmios, se existisse à época um concurso para aquilo.

   Concedeu descanso à pena e, melhor ajeitando as roupas, seguiu feliz ao objetivo entre saltinhos e risinhos. Claro, não havia como ele saber de antemão quem era apenas pelos sons na madeira; mas o homem, sempre em suas inovações mágicas, implementara um potente sistema ao redor da casa que o avisava se o visitante era conhecido ou não. Muitas das vezes, sua querida esposa demorava quando saía pela floresta a caçar, e os dois, cada um em sua zona de conforto, aproveitavam ao máximo a fazer coisas que a vida de casal não permitia. Ellória sentia um pouco de ciúme bobo das histórias do homem sobre a tal figura lendária, e atualmente o homenzinho petulante se esforçava para não o trazer mais nem à memória. A vida tinha seguido por caminhos diversos! E que bom que o projeto de bruxo-escritor, ou de escritor-bruxo, encontrou aquela mulher clara de sardas que unia a doçura de um lindo e comovente lirismo sem fim com a objetividade necessária do dia a dia. Perguntava-se, porém, por onde andava o cavaleiro. Onde suas distintas passadas...

     — Não creio, não creio! Os meus olhinhos azuis me estão a me enganar ou será mesmo verdade que os vossos distintos e silenciosos passos hoje se encontram aqui? Em minha humilde residência?!?! Ellória, minha querida esposa e consorte, não acreditaria! Até eu mesmo, devo dizer que estou sobremaneira estupefato! Não sou digno, oh... deveras.

     O cavaleiro, entrando, pensou em falar algo. Mas não seu ao trabalho e apenas franzia a testa para o homem, mostrando sorrisos amarelos. Era melhor não retrucar, não forçar nada e, pelo menos por enquanto, não aborrecer o velho amigo com narrativas e detalhes a esperar que sua amada retornasse de seus afazeres. Até ele se surpreendeu por chegar a tais conclusões.

     Celeremente, trouxe duas cadeiras de cedro para uma mesa no centro da sala, e servia um resto de uma deliciosa sopa de abóbora que ainda conservavam sobre um caldeirão. O anfitrião já iria por lenha para cozer o alimento, mas discretamente a mão esquerda do hóspede requentou a comida ao ponto aceitável. Sem nada a dizer, repetiu a façanha sob a tigela do amigo, e este achou emocionante aquela gentileza.

 

v   

 

     Sem cerimônia, terminou o caldo com a mesma rapidez de que chegou na casa. Eram meio tristes aquelas atitudes e o ex-servidor real tivera tido bastante tempo para acostumar com a “objetividade” do forasteiro. De mesmo modo em que reparou em seu ensopado que se esquentara minutos atrás, ficou observando aquela ação como se fosse um quadro contemplativo.

     Não atoa ele era um herói, e por isso também conseguia sobreviver vagando àqueles tempos sombrios: executava cada ação como se fosse única, realizando uma somente após a conclusão da anterior. Em um futuro, descobririam inclusive que dito comportamento seria biologicamente explicado um dia, e o homenzinho petulante nutria um desejo forte para conseguir ter uma longa vida, mas a quase-eternidade ultrapassaria equilibradamente os limites da magia. Preferiu dedicar-se ao presente e aproveitar o momento de epifania que o destino os tivera preparado. Foram os Deuses, os quais o cavaleiro de maneira séria e imparcial, não fazia distinção em clamar; teria sido especificamente Marika, que à visão do dono da casa, contribuía para juntar fé e razão assim como outrora o fez com sua união a Radagon; ou mesmo um leve e banal acaso, de certa forma modificado pelas convicções e atitudes de Gislana e sua singela flauta? Eram tantas variáveis e possibilidades!

     Olhando-o fixamente nos olhos, ele começou o que seria um relato de mais uma de suas aventuras. O outro tudo ouvia, circunspecto a tomar a sopa. Era bom, mas curioso e um pouco estranho para ele, o papel de ouvinte:

     (...) E então, eu... forte e bravo nobre cavaleiro, como tu mesmo o dizes, cai ao mar gelado... Desconfio que estejas se perguntando agora sobre o motivo de ter iniciado minha “odisseia” pelo final. Apesar de ter sido uma boa luta, o que aconteceu já se torna passado, não nos cabe reverter o curso do rio. — Mas que metáfora linda que, mesmo sem perceber, meu amigo concluíra de sua frase! Não sei sobre os azares que lhe ocorreram desde nossa partida, no entanto bem posso desconfiar que vislumbrara cenários de rios escondidos ou tramas misteriosas que desafiavam talvez a lógica do mundo e a racionalidade comum do ser humano. Sentia-me, tal qual um imaginativo infante, preso à narrativa desde o início. — Como cheguei até ali, os poderes dragão que firme em minha verdade abarco em meu coração... talvez não lhes sejam dignos. Muito relutei-me em avançar até aqui... e estava certo e em paz à certeza de jamais o reencontrar; pois grande é o mundo, e difusos são os seus caminhos.

     A criança interior que ouvia o tal “conto da carochinha” da vez se exaltou em animação como se estivesse voando com a gárgula até o mais alto das estrelas. Por isso também a inversão de papéis a mim me era estranha! Vou tratar de finalizar esse brodo em um az e traz, meus olhos e meus sentidos deverão tomar 100% de atenção a meu amigo lendário.

     — Cruzei vales, planícies, planaltos e depressões... Trabalhei corpo e mente para os acasos e adversidades que estariam por vir... Acredito que conservei um olhar iminente a tudo o que poderia se colocar à minha volta. Mas parece que nada disso adiantou! Somos pequenos frente à grandiosidade do destino. A magnificência do mundo e os seus variados cenários e possibilidades apenas reforçam nossa pequenez. ...

     O ouvinte, que já estava quase na metade de sua tigela, sentiu que o hóspede iria falar algo mais. Ele já tinha tomado como certo que o cavaleiro era uma pessoa forte e capaz, jamais chegaria a seu conhecimento uma cena de lamúrios e tristeza protagonizada pelo amigo, e o dono da casa não sabia o que fazer diante daquela quebra de paradigma.

     O caldo poderia esfriar, mas o homem pousou a colher à mesa e novamente olhou para o viajante. Só, que daquela vez, não era como os outros olhares piedosos de minutos atrás, mas sim uma mirada mais objetiva e meio cética, tal qual Ellória enquanto elaboravam as suas composições em coautoria. Sentindo coragem, ateve-se, mas depois falou:

     — ... De pequenez e disparidades de tamanho, pode deixar, pois eu entendo bem. E... ora vamos, nobre estrangeiro! Fazes muito continuamente a atravessar teus limites. Caso tivéssemos apenas um tipo de pessoa no mundo, por exemplo, um plebeu baixinho que só fica na fala e nunca age propriamente dito, imagine o quão anódino e insípido seria. — Não teve como não parar nos dois adjetivos que significavam, respectivamente, “sem efeito \ sem força” e “sem graça \ sem vigor”. Ele riu retoricamente de sua cara, mas logo em seguida continuou: — Vede, cavaleiro, nos tempos de meus antepassados acreditava-se que a Terra era plana. Foram as descobertas, movidas pelo comércio e pelas grandes navegações, que se ampliaram visões e, como portas abertas, abriu-se o mundo. Difíceis podem ser os obstáculos... colossais exemplificando com o meu tamanho..., mas “passar para o outo lado” reforça-nos em ego e desejo. Temos de acreditar que somos capazes, e talvez, um dia e com treinamentos adequados, sejamos! — Apesar de, na maior parte do tempo, ser mesmo um “homenzinho petulante”, o emissário da mensagem tinha horas de sanidade e ponderação. Escolhera as palavras “ego \ desejo \ treinamentos adequados” e toda uma engenharia linguística não à toa. No mais, ficou a pensar se aqueles conselhos motivacionais poderiam se converter em profissão no futuro.

     — (...) E então, caía ao mar gelado. Iria fazer frente a Borealis, o dragão de gelo que sobrevoa a grande área conhecida como Montanhas dos Gigantes, mais especificamente no Grande Lago Congelado. Usei, adaptando-me a vós, ex-lacaio real, o verbo no presente pois digo que a criatura dracônica ainda pode ser vista sobre os picos. — Levantou-se, e a fim de renovar seus pulmões, caminhou para a janelinha aberta e admirou a plantação bem cuidada do homem. A cena lhe recordava passos de um antigo monarca, em mesma nostálgica atitude a sentir o perfume de lírios e papoulas. Mais ainda (e ele até mesmo se assustou, por nunca ter pensado sobre aquilo), reviu em sua mente o sorriso de Tamara e o esboço ameaçador da fera, seu objetivo final. O wyrm que lá se escondia poderia sim, ser colocado entre os antagonistas (pois sua figura roubava a paz de reino e o sustento dos mineradores); porém outros, os que vagavam nas distantes terras vermelhas, por exemplo, não tinham feito mal algum (pelo menos não que o cavaleiro soubesse), e talvez não seria bom matar as pobres criaturas só por matar, ou unicamente porque elas eram diferentes em biologia dos humanos, fato que a humanidade os rotulava como monstros.

     Previa que também era seu treinamento justamente aquilo: saber dosar emoção quando entrava em terrenos escorregadios de memórias e palavras tolas. O que tinha acontecido já era passado, ora! Não podiam, como ele próprio até recentemente falou, mudar o fluxo e o caminho natural do rio.

     Tratou de deixar o sentimentalismo e o dilema ético fora da conversa, e voltou para a mesa, como se fosse voltar para uma partida de xadrez, já a elaborar em estratégia e zelo o aguardado xeque-mate:

     — Desconfio que em vossas fábulas ou apresentações já tenhas passado por isso, mas saiba que, enquanto caía ao mar gelado achando que eu estava próximo do fim, o dragão falou comigo! E, para meu espanto, não fora em qualquer língua estrangeira dos bárbaros pelo mundo afora; mas sim em meu próprio idioma.

     Com aquilo, ele fez uma pausa dramática e o amigo ficou em choque, de uma maneira boba, mas incompreensivelmente estático. Podia se lembrar ainda dos antigos dizeres do majestoso animal alado que guardava a chave: “bona vala mībo taobe iksos daor”. Fora inaudível para ele à primeira instância, lógico, mas depois secretamente estudou e achou ter descoberto até mais do que o próprio amigo desbravador um dia poderia ter a audácia de descobrir. O bicho se comunicou em uma língua própria de criaturas dracônicas, com sons e gramática como selos de cera que se adaptariam a um fluido linguajar reptiliano. Estudando, e voltando ao contexto da transmissão da mensagem, desconfiou que a melhor tradução seria “este homem não é o pequeno garoto”. E, era legal e algo à frente do seu tempo (como o ignóbil ser ouvira tal blasfêmia, mesmo em um código escondido, de um estranho com outras andanças e biologias?), mas com medo de achar-se deveras doido, não saiu contando a descoberta nem para sua esposa. Pela escassez de mais evidências e recursos, tivera de abandonar o possível sonho e retornar à realidade banal dos idiomas humanos. Ainda sobre aquilo, talvez no futuro alguém separasse mais certamente o que viria a ser de fato “língua” e o que se entenderia por “idioma”.

     Mas, contudo, todavia, senão, porém, entretanto, aliás, estava lá e lá mesmo tinha de ficar (como em suporte para o delírio delirante do cavaleiro)! Ouviu, finalmente, o final; com a sopa já finalizada:

     — Parece que... ainda não estou convencido disso, e dói-me afirmar. Mas, ora vamos... Receio que tenhamos um ancestral comum.

     Amigo! Sois um nobre, e por conta disso, eu também duvido que tal afirmação seja verdade. — Media as palavras como se fosse Ellória a aconselhar ele próprio. Poucas vezes teve similar sensação, e gostou daquilo. — Não obstante, temos de analisar agora qual teoria a qual estamos a falar. Há três principais: a visão dominante em nosso tempo contemporâneo, onde acredita-se que todos viemos como filhos diretos ou bastardos de Adão e Eva. E falo “bastardos” pois tem-se que “todos os homens descendem do ser de barro, e por ele entrou o pecado no mundo”. Existe também quem tende conciliar fé e razão, enxergando na humanidade uma única linhagem, unida pela alma racional criada por Deus. E podemos ver ainda outras explicações mais sólidas, em que a geração única de Adão foi dispersa após o dilúvio de Noé; e a diversidade dos povos vem pelo fato dessa mesma gente ter sido espalhada pelo mundo todo, sujeita à insolação, trocas de claridade entre claro e escuro, e as demais intempéries do tempo. De qual vertente estamos falando, amigo e nobre cavaleiro?

     Ele riu, mas logo voltou com suas preocupações e cara fechada, pois não sabia quanto tempo a mais teriam longe das vistas da dona da casa. Sobremaneira, o nobre não desejava que ninguém mais soubesse, e... como se algo insurgisse contra o homem, suava frio e foi difícil fazer o brutamontes se acalmar. No entanto, não corria um perigo real e os azares da ultima empreitada que se tinham passados. Mesmo trêmulo, continuou o assunto:

     — Creio que seja da última. Quisera eu me prestar a falar somente da origem de povos e de monstros no geral. Mas o assunto tange... nossas linhagens; especificamente a tua e a minha! (...) Ouvi o dragão se comunicar comigo em minha própria língua pois, ao que as circunstâncias indicam, pertenço a linhagem dos cavaleiros dracônicos, e por isso meu corpo e sentidos atraem-se às passagens dessas feras, e meu coração está apto a receber o dom dos poderes de tais criaturas.

     — Minha nossa. Não cre... — Ele iria soltar mais um de seus bordões exclamativos e estupefatos, mas vendo a impaciência do amigo e as suas olhadas pela janela, viu que o Sol já caminhara celeremente para o oeste, dadas às sombras agora mais visíveis em suas abóboras. Mudando então para uma postura mais imparcial e direta, falou com o homem fitando-o apenas no olhar, de igual para igual, sem pegar nas mãos ou chorar de emoção: — Supondo que tal revelação seja verídica, isso faz-me também um cavaleiro de dragão. Na tentativa de abrandar vosso ânimo, revelo-lhe que já pude escutar, de mesma forma, uma criatura alada certa vez. No entanto, ouvi apenas uma frase, e em sua própria língua. Contra fatos, criteriosamente não há argumentos. O legado pode ser verdade. — Usaria uma outra palavra que não fosse tão fatídica como “criteriosamente”, mas o destinatário era um sujeito objetivo, e abrilhantando com “legado” na última frase, deu à expressão um sabor de conquista que só o estrangeiro poderia fazer.

     — Aldreda, tua parenta, fora minha ancestral; isso tomando por verdade que a patranha do dragão seja um fato consumado. Graças aos Deuses, se em algum momento da história existiu registros, perderam-se nas areias do tempo. Fico somente com os assombros de tal estapafúrdio conto. Como poderemos então ser contemporâneos, se Aldreda é parente de oitava geração de Gislana, que é uma ancestral tua, sendo que essa mesma personagem é uma prima distante de minha vó, pois a tal garota que via pontinhos azuis e que por isso fora levada da vila agora é aquela que me introduz ao Mundo Cerúleo? Não faz sentido.

     — Viajante! É mesmo uma boa história, tecida em múltiplas roupagens e reviravoltas possíveis. Poderíamos solucionar, juntos este problema. Mas o Arto Rei já vai de galope a atravessar os montes, e prevejo que minha consorte logo chegará. Continuarei levando esta minha vida tranquila de camponês circense, e às andanças que agora me chegam eu buscarei no mais completo sigilo sobre ecos deste passado que se faz assustadoramente presente a nós. De mesma forma, procurarei em minha residência e em lugares aos quais transito livros ou evidências dos tempos mais obscuros da criação. Obrigado, nobre e bom cavaleiro; mal vejo a hora de desvendarmos este enigma.

     Sem tirar nem pôr, o anfitrião abriu a porta dos fundos, e com um sopro que só podia ser alcançado por magia, tratou de afastar o hóspede dali. Alguns passos distantes até da bela e ornamental decoração de hortaliças que circundava a casa, ele olhou primeiro para o chão e depois para as madeiras daquele casebre. Cuidando para não ser visto, chegou a pensar que o amigo, apesar dos pesares, era boa pessoa; e que, apesar de todos os pesares ainda, fizera o certo em revelá-lo sua origem (pois também tinha direito de saber, ora).

     E assim, terminou-se mais uma saga do herói, com disciplinas e palavras a seu ponto.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Profundezas desconhacidas.

 

     (...) E então, ele driblava com seu cavalo o gigante guardião que vigilante se colocava à frente da entrada daquela cúpula branca. Era uma clara manhã de verão, mas as luzes naturais foram se enfraquecendo gradativamente, e o herói, agradecendo, despediu-se de Ásirus. Estava novamente sozinho; agora bastava apenas acionar o redondo elevador para descer rumo ao inexplorado. Era como que dia de folga para o homem, e as incursões e estratégias feitas à terra não evidenciavam qualquer presença dracônica. Seguiu em paz, contando, já em enfado, os minutos de descida.

     Foi exatamente por isso que deixei esse lugar intocado até agora. Com toda a certeza dos Deuses o amigo da corte iria enxergar diferença nessas mesmas e chatas pedras que alicerçam a parede dessa gruta...

     Conservar consigo as roupas de seu povo de origem era como questão de honra para o cavaleiro. Aquilo unia para ele tanto proteção quanto símbolo, e, logicamente, o homem petulante discorreria mais sobre tal atitude, ratificando as comparações. Uma bandana de tecido áspero envolvia-lhe a cabeça, oferecendo proteção contra chuvas e jornadas longas. Simples, porém firme, ajustava-se à testa, absorvendo o suor e lembrando que o combate começava muito antes do primeiro golpe. Sobre seu ombro esquerdo, uma ombreira com contornos estilizados descansava, moldada para absorver impactos e ainda assim permitir liberdade de movimento. Cada articulação, cada dobra, parecia feita para não atrapalhar o balanço de um machado comum que ele empunhava com a destra. Tiras marrons como braceletes entrelaçados envolviam os seus antebraços, e uma calça segmentada com coturnos de mesmo design da parte superior concederiam aos portadores um aspecto selvagem. Ajudando-o a lembrar-se de casa, em poucas ocasiões modificava tal memória.

     E ali, certo das futuras condições que iria enfrentar, considerou mexer na armadura. Vestiu-se de camisa e calça compridas, trabalhadas em uma singular e leve lona encerada, que impediria quase 100% a entrada de água. Calçou também botas de couro encerado, a fim de maior furtividade e flexibilidade em contextos como aqueles, apesar de perder uma certa resistência a impactos grandes. Optou por não usar luvas, pois vagando por locais fechados suas mãos podiam suar. Assim partira desde sua última parada, em uma igreja em ruínas perto dali. Repassou as estratégias, treinou rapidamente com adversidades pelo caminho, e mediu as distâncias mentalmente, conservando de sua indumentária antiga a bandana de tecido escuro.      

 

v   

 

     Finalmente, alcançou o piso térreo! O cenário era fechado, com um trecho de rio não muito largo que entrecortava uma caverna. Formigas imensas, do tamanho de dois ou três homens, infestavam as paredes. Olhou para sua mão esquerda, e bastou um sopro de fogo em 360 graus para que todas caíssem como animais inofensivos. Algumas se levantaram depressa a fim de atacar com seus ferrões e venenos ágeis, mas a lança do viajante, ainda que sem reforço algum por pedras de forja, estava sempre pronta.

     Tinha duas rotas possíveis: a da esquerda ou a da direita. Apesar de o lugar conservar-se em escuridão, optou por não usar a tocha; pois a luz poderia expor segredos que ainda deviam ficar ocultos, e o tremular das chamas poderia despertar perigos adormecidos. Ele então se abaixou devagar e procurou ouvir o som do rio, com cuidado para não molhar sua orelha, uma vez que tinha dúvidas a respeito da pureza da água. Estimou que levaria tempo até alcançar a foz, e ainda a contar com os inimigos e mais formigas que poderiam surgir... aquilo iria demorar.

     Continuaria para o Sudoeste — onde os insetos descansavam à parede —, mas logo virou seu corpo e foi para a direção oposta, pois monstros poderiam emboscar o homem caso ele rumasse sem pensar para o caminho “natural”.

     Margeando as águas, avistou um palco mais largo e circular, que continha uma espécie de cachoeira no fundo. Não obstante, arremessou para frente três de suas facas que levava ao cinto e esperou: .... Nada aconteceu! Porém, certo de que algo estaria ali, com um sopro de fogo incendiou uma parede lateral, protegendo-se com escudo e pulando para o lado enquanto isso. O pequeno salto levantara algumas águas, o que não foi uma boa estratégia, mas o mesmo movimento fez cair uma solitária formiga que lá vigiava. Curioso, e agora mais tranquilo, aproximou-se da pequena cachoeira, pois algo em seus padrões parecia não ser tão banal como uma queda d’água comum. E o item que lhe estava ao lado podia confirmar tal hipótese: já tinha visto algo similar em suas andanças.

     — Que ótimo, um sebo mágico... — ele ironizou, perguntando-se se, com aquele dado, teria ânimos para continuar.

 

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     — Siga em frente. — Eis que o cavaleiro pode escutar uma voz misteriosa que parecia ecoar das águas que jorravam daquela parede. Em suas andanças, ele topou com similar fenômeno uma outra vez, em uma região que estava gravada em sua memória tal como o Sol é inerente ao dia. Caso, lamentavelmente, não tivesse passado por aquilo, não teria como o herói prever do que se tratava; e sua repulsa à magia e a qualquer coisa que parece “não digna de vitórias” iria fazê-lo retornar de vez à superfície e abandonar aquelas rotas escuras e desconhecidas. “As formigas são apenas o primeiro desafio. ...De certa forma, que bom que existem mais por aqui.” Ponderou mais uma vez sobre qual desafio cumprir, mas seguiu em passos silenciosos às profundezas.

     Os mesmos insetos enormes faziam ronda pelas galerias que se bifurcavam atrás dele. Esperando a patrulha das pragas passar, entrou e saiu da grande abertura ao sudoeste, o que revelou uma pequena emboscada à direita. Assim que as outras operárias voltaram, ele já estava pronto com sua lança. Margeava agora a bifurcação mais adiante, à esquerda, e... novas duas ameaças que corriam na horizontal, e mais outras que caíram do teto com o propósito de cercá-lo numa armadilha viva. Optou por não usar seu poder dracônico desta vez, e treinou seus golpes e destreza. As duas que estavam no chão foram fáceis, mas uma outra que vinha de cima em uma parte mais escura inoculou veneno em suas vestes. No entanto, rapidamente curou-se com um kit rápido de sobrevivência. Gastou mais uma de suas facas, mas pegou o tesouro que as aberrações guardavam: três pedras para reforço de armas.

     — Como se precisasse... — ele se recriminou por ter “ido até lá só por aquilo”; mas, de certa forma, elas poderiam segui-lo caso avançasse para mais além. Fora bom aquela pausa.

     Foi a hora de novamente “sentir” o caminho do rio, pensando se seguiria com a tocha, ou se continuaria vagando na escuridão. E então uma irresistível estratégia atravessou-lhe o pensamento: com um único sopro de fogo, poderia colocar o archote à frente como um escudo, e... o efeito logicamente seria de uma dedetização em massa. Se bem que apesar da agressividade e da eficiência do plano (pois, a depender da mira, o efeito se estenderia às galerias interligadas), o solitário homem desconhecia até que ponto o fogaréu criado seria prejudicial, voltando labaredas ao dono ou atiçando ainda inimigos a metros de distância; além de, sem querer, ativar uma ou outra alavanca pelo caminho.

     Persistia então no mesmo ardil, andando com cautela, e poupando recursos.

 

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     A partir dali, o local se transformava em um verdadeiro labirinto. Pelo menos, via nas voltas e mais voltas uma boa oportunidade para treinamento, e, mesmo que os inimigos já não fossem tão letais de acordo com a sua larga experiência, permaneceu ali. Ele jamais admitiria para si, mas tinha medo das magias que encontraria mais abaixo, e seus sentidos assim o privavam de cruzar outros níveis.

     Com coragem, avançava mais ao Sudoeste. E percebia que, conforme andava, fracos e espalhados pontos de luz denunciavam que alguém teria passado por lá (talvez tivesse sido recentemente, a julgar pelo brilho). Pôde identificar então ao chão algumas pedras esculpidas cuidadosamente de forma retangular, e o vão que faziam no meio indicava que ali caberia uma pessoa de pequeno a médio porte. As águas ainda perpassavam os túneis, mas o cavaleiro agora percebia que pilhas vermelho-escuras de esqueletos entrecortavam o cenário. Locomovendo-se com mais cuidado ainda, foi para uma abertura mais ao Sul, e encontrou: um novo e solitário adversário, que escondia rudimentares escadas de pedra logo ao lado. Seria a saída? Ou um convite para não avançar mais, talvez.

     Ponderando tal como ao começo da empreitada, pegou seu arco e flecha e subiu.

     Chegou em uma galeria circular, úmida, mas desta vez sem aquele tapete líquido que irrigava os ambientes embaixo. Finalmente, uma luz natural atravessava um oval buraco no teto, e estalagmites acinzentadas alinhavam-se harmonicamente com as estalactites que ali se ampliavam. Os conhecidos insetos gigantes infestavam as paredes, além de algo novo ser visto pelo cenário. Ao grande salão funcionava uma espécie de berçário, com as larvas fixas às paredes e crescendo em um ritmo bem característico.

     Protegendo-se com escudo, apontou suas armas para mais além, já buscando melhor caminho para percorrer 180 graus. Estava pronto e a uma distância que as formigas não o veriam.

     Estava tudo preparado e a vitória, mais uma vez, era certa. Contudo... olhou mais uma única vez para aquelas larvas próximas e... não teve coragem de fazer! A cena lembrou-lhe sua infância, e de como outrora se sentiu incapaz e indefeso diante das adversidades. Assim como ele, as pequenas ninfas não teriam aquelas preocupações, e não entenderiam porque estavam morrendo, tão cedo, sem conhecer a luz do dia ou abrir os olhos. Porém, tal escolha traria consequências, recentes ou nem tanto, como um ataque inesperado assim que o herói virasse de costas. Era um risco que correria, mas não podia quebrar o ciclo da vida de forma tão covarde.

     Admirou por mais alguns instantes a gruta, e voltou seus passos a fim de continuar a aventura no túnel ao lado. Que bom, os pais não vieram ao encalço do homem, e o destino fluiu como o rio.

     Avançando pelo túnel, percebia que as paredes escuras e cavernosas se iluminavam por brilhos tremulantes em azul-claro. A fina camada de água sob seus pés tinha chegado ao fim, anunciando também uma mudança de cenário. Uma espécie de portal em arco era evidenciado por uma bruxuleante pira acesa em mesma tonalidade das novas luzes, e duas estátuas podiam ser vistas de cada lado. A passagem elevava-se em dois lances pequenos de escada e conduzia até uma ponte à esquerda.

     Certificou-se de que não estava sendo seguido, e varreu com os olhos a área para se certificar que não havia inimigo algum escondido. Ele queria prosseguir, no entanto podia imaginar os reais adversários que encontraria lá embaixo, e toda a caverna agora parecia-lhe mais confortável. Um outro conhecido seu poderia comparar seus sentimentos à luz que se anunciava e à escuridão passada, olhando também para o parapeito que restava em uma de suas bordas, onde quatro estátuas parecidas evidenciavam o limiar e a separação dos opostos ambientes. No fundo, uma última fenda com um local de descanso.

 

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     Revisou os seus equipamentos e as suas armaduras, ajeitou o seu raro e transparente capacete imune à magia, e desceu em um elevador circular logo à frente.

     A comparar as descidas, a atual fora menos cansativa. Finalmente também, o herói se alegrou por ver ameaças diferentes, dessa vez com aspectos mais humanoides e alguns munidos de lanças e outros com pedras brilhantes. Não mais uma simples caverna, ali se erguia um grande e amplo salão, com compridas pilastras e estátuas de humanos gigantes ao fundo, e cachoeiras com espaços mais profundos atrás. O novo ambiente era para ser admirado em silêncio, porém, tão logo o primeiro homem viu o intruso, todos os demais ficaram agressivos e caminhavam por cercar o herói. Apesar de ser apenas um, ele tinha vantagem pois a horda dos novos inimigos era lenta e aparentemente frágil. No entanto, era só primeira impressão: os seus corpos eram feitos como uma mistura de barro e lama, oferecendo boa defesa física. A garra do dragão era eficaz, mas o sopro gelado revelou-se uma interessante estratégia: ao interagir com as águas do cenário, fez os adversários escorregarem. Evocou também seus goblins do Mundo Cerúleo, e de maneira decidida e firme não se rendia.

     — Por aqui... — Certificando-se de ter derrotado todos, foi buscar com tranquilidade as recompensas pelo caminho. Dedicou um tempo para readmirar a imponência das duas estátuas (pois eram notáveis pelos detalhes e ar de mistério, ainda que com postura de sábios e manuscritos ovais às mãos parecessem dizer “você não é bem-vindo aqui. Retire-se, por favor”). Pela física e temeridade, o cavaleiro posicionava um pouco para a direita, não exatamente na convergência dos dois olhares pétreos. Foi então que escutou uma voz muito provavelmente vindo de uma cavidade perto de uma planta brilhante com pétalas brancas. O triste balbucio líquido era inconfundível: uma silhueta feminina já conhecida; ninguém mais, ninguém menos do que a própria rainha que encontrara ao castelo de terras passadas. Feita como em vítima e com roupas que denunciavam uma recente exploração, Tânisa descansava parecendo ter previsto sua chegada.

     — Vibrações nas águas detectaram que alguém se aproximava, mas devo confessar que temia que não fosse o senhor, nobre viajante sem nome. — Deitada e com aparência fraca, tratou o homem com a mesma cordialidade exigida parra monarcas. Poderia sim estar ali na condição de prisioneira, capturada pelos inimigos de barro como refém de um plano misterioso de uma entidade adversa que visava roubar sua magia; ou então ter-se deixado ser pega a fim de atestar as habilidades do cavaleiro, uma vez que os infortúnios do tempo não a permitiram ainda comprovar. Incólume e distante da soberana, lembrou-se de sua proposta de combater ao torneio da primavera. Pelas contas do cavaleiro, aquela deveria ser já a terceira lua de combates, e os desafiantes poderiam estar ainda se engalfinhando como cães e gatos, pois com certeza a brincadeira tivera muitos adeptos. Sobre aquilo, ele acreditava que soubera sair do impasse com maestria e respeito, além de ser improvável que a mulher estivesse lá para refazer o convite e novamente implantar-lhe a dúvida. — Estamos diante dos portões da dinastia Uhl, importante império que governou estas terras desde tempos imemoriais. Seus soberanos não precisavam subir e à superfície para ver seus poderes e domínios se expandirem, e confiantes e estratégicos imperavam influências aos planos superiores resguardados pelo rio. Como qualquer reino da contemporaneidade, a civilização presava por hierarquias e regras claras, convertendo os exemplares do topo em seres sumamente respeitados e temidos. — O cavaleiro ouvia atentamente as palavras, e agora estabelecia à mente um paralelo com os demais impérios que tinha conhecimento. Todos almejavam a mesma coisa, maculando diferentes nações a um mesmo final: o extermínio era proporcional à glória. De tempos em tempos, sempre surgiam novos ideais que pensavam fazer diferente, mas que, aos olhos do viajante, não passavam de cegos rumando em direção ao abismo, para a mesma sede de poder.

     Ao que tudo indicava, Tânisa estava sozinha à gruta; mas a ideia de ter sido pega por remanescentes de uma linhagem de mais de 100 anos parecia estar em desacordo com sua intimidante figura. Se bem que as tais criaturas de barro não teriam resistido tanto tempo não fosse algo grandioso, e, assim como pedras reforçavam armas, vontades e planos outrora não realizados poderiam ter alimentado ecos de magia, e assim operar para que um caos antigo silenciosamente viesse à tona em um futuro próximo. 

     Como esperado, ele sondou os riscos da viagem e, parado tal qual as colunas ao redor, provou da sensação entre ir ou ficar. Certamente, a “prisioneira” acompanharia o homem caso o seu desejo fosse avançar ao desconhecido, pois sua fala passada deixou a entender que sabia mais coisas sobre a sociedade ancestral. Não seria prudente confiar na rainha, mas outro lado ela poderia servir de suporte contra uma ou outra armadilha mágica. Tendo em vista uma de suas recentes incursões, outrora conseguiu passar daquele dragão e pegar a chave graças ao simples ato evocar os goblins. Isso lhe dera mais atenção.

     — Desconheço o real motivo de estares aqui, mas posso ver que, certamente, os nossos fardos e visões se cruzam hoje por algo maior. — Usou similar tratamento cordial, porém reservou-se em não dizer nem o nome muito menos o status da mulher. Com uma frase que possivelmente lembrou-lhe algo conhecido, a bruxa das águas levantou-se sem ajuda. Após minutos de silêncios sepulcrais, formava-se ali uma improvável aliança.

 

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     E assim o grupo seguiu: rainha Tânisa na linha de frente, vigiada pelas duas evocações cerúleas do cavaleiro, e este privando-se por ir atrás, olhando estrategicamente para todos os lados. Corajosos, pegaram o acesso principal, e não um lateral que se punha à direita.

     Passavam por uma sala comprida e retangular, com paredes de mesma forma grandes e suntuosas. Provavelmente aquele era o átrio para se chegar a um outro anexo, talvez um pouco mais largo e comprido do que o antigo. Colunas encimadas por piras flamejantes em suporte de pedra davam à passagem um ar ritualístico, lançando sombras dançantes sobre as paredes.

     — Realmente... — A refém, que agora caminhava livremente à frente do trio, soltou um comentário possivelmente irônico. Com isso, os inimigos que estavam escondidos encurralaram os exploradores, mas que habilmente levaram a melhor sobre aquele novo desafio. — Realmente impressionante. Obrigado por me libertar, meu bom homem.

     O que a mulher visava com aquele “plano”, afinal? Era destra como o seu salvador, e rápida com as mãos. Observando, via-se que poupava suas artes mágicas para usar apenas quando necessário, e com fluidez portava um chicote que imobilizava os adversários e os mantinha longe, ganhando segundos preciosos em batalha.

     Vencida a adversidade, voltaram a permanecer somente à companhia das topicalizadas chamas do hall. Requerendo uma prova da momentânea lealdade, o herói acenou com a cabeça e a intrusa entendeu que ela deveria seguir sozinha, revelando assim inimigos pela área, enquanto o homem avançaria logo depois em maior segurança.

 

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     Sozinha então, desceu por uma escada curta que se abria em leque a partir do centro. O caminho do rio voltou a ficar mais espesso, e as paredes contrastavam as arquiteturas humanas e naturais. E o explorador observava tudo atentamente, protegendo-se à meia-luz da sala e atrás de seu escudo dourado que ajudava a repelir magia. Mesmo se a rainha pensasse em fazer algo, os amigos pétreos agiriam rápido.

     Respirações controladas, passos silenciosos, ânimos aflorados. Mais adiante, presa ao teto da ampla gruta, uma criatura branca com asas se desenrolou e, ameaçando os intrusos, atacava freneticamente com uma chuva de pedras. Tânisa foi pega de surpresa, mas enfim revelou seus verdadeiros truques: ergueu ali quatro colunas de água, que ao ritmo de seus pés giravam tendo a mestra como eixo. Chocando-se, as rochas arremessadas se partiam e estilhaços feriam a mulher, que acostuma a estratégias, avançava.

     As pequenas evocações do cavaleiro, que seguiam “presas” também dentro do vórtex criado, lançavam em sincronia suas luzes azuis às paredes líquidas. Os mini-feitiços então atravessaram a barreira, e o feito lembrou o já distante expectador de uma antiga aventura ao inverno passado.

     O humano pensava em entrar ao calor da disputa, mas eram ainda muitas as variáveis, e meio cômodo decidiu por ficar no lugar onde estava. Caso optasse por um movimento falso, a rainha poderia de uma hora para outra se voltar contra ele próprio, controlando os mananciais que entrecortavam o cenário. Sentiu o impasse, mas confiava em seu plano.

     Ao centro, a performance líquida se expandia em diâmetro, desabilitando os demais inimigos da sala, os conhecidos seres de barro. O herói persistia em esperar à passagem em segurança, mas ainda sim podia interferir na batalha sem necessariamente estar lá de corpo presente.

     — Protejam-se! — Sua voz retumbou firme entre as paredes, reverberando e causando eco. Após o aviso, um sopro gelado varria a galeria, congelando as superfícies das águas e retardando mais os adversários.

     Sentiu coragem para avançar, e como um leão fez um salto acrobático no ar! Ao longe, a rainha fez as colunas que se expandiam pela sala voltarem em movimento reverso, pois absorvia agora sua própria magia envolvendo-se em uma imensa bola oca que a ajudava inclusive a revigorar saúde.

     Os goblins de pedra também foram reforçados com o tal escudo mágico, e trabalhando em trio, sumiram com a misteriosa e branca ameaça alada às paredes. Não tinham como ter noção do tempo em que estavam ali, se já era noite ou ainda dia, mas a claridade e as vitórias de mais uma improvável luta eram as certezas que os faziam continuar.

 

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     — Então... Acho... que já acabamos. Reconheço, serias um competidor fenomenal no torneio. Mas, nossos fardos e visões, são necessários. — Tânisa, esperando todo o resto voltar ao normal, falou com voz calma e fluida para transmitir certa “paz”. — No entanto, não é bom a viajantes festejos por uma única e simples vitória, e ainda mais, aquelas com ajuda. Quem sabe o que se esconde, atravessando esses rios e tocando às profundezas?

     Ora, ora... Em primeiro lugar, não era a mulher quem o cavaleiro teria encontrado a pouco, feita prisioneira e incapaz de continuar?! O que ela queria com aquele “plano”, afinal? O herói, refreando seu orgulho para não cair à ofensa, duvidou por um momento se ele próprio estava mudando.

     — Reservarei o melhor da batalha para vós, ó grande guardião da estirpe dracônica. — Ele ainda não tinha escudado tal epíteto, e apesar de notar evidente ironia aos dizeres da majestade, mostrou-se honrado por reconhecer seu valor e poderes. — Acredito que me ausentei em demasia de minhas obrigações. Nos reencontraremos em breve, cavaleiro. As águas fluem como nossos destinos. — E sem mais dizer, já fazia o caminho de volta, e certamente de retorno à superfície. O humano e as evocações permaneceram lá, livres para agora ir ou ficar.

 

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     O fantasma da bruxa das águas ainda deveria estar perto, visto que pacientemente o observador contava os segundos, em meditação. Após um longo período, provavelmente o início da noite lá em cima, sentiu fome e revisou seu estoque rápido de alimentos que levava em toda viagem. Depois, procurou uma cachoeira e enfim lavou seus cabelos.

     Retrocedendo seus passos então, pegou novamente o elevador de acesso ao andar superior, aquele do limiar entre os cenários de caverna e da tal dinastia. Descansando por ali mesmo o bastante para se recuperar física e mentalmente dos últimos acontecimentos, requereu novo ânimo para enfrentar os inimigos todos mais uma vez, dessa, com valentia e sem ajuda, nem mesmo das estratégias do Mundo Cerúleo. Talvez como um indício de mudança de rota, a alva crisálida presa ao teto tinha sumido, tornando as tentativas mais cômodas. Sempre que descansava, os homens de barro retornavam, “trancados” em uma espécie de ritual que enganava a própria morte.

     Não gostava de repetir lições, mas achou prudente refazê-las para, quem sabe, resistir melhor às adversidades mágicas. Achando-se mais capaz, foi ladeando pela esquerda até chegar em um novo salão com... mais formigas. Lembrou-se do berçário, mas de mesma forma aqueles insetos poderiam ser hostis, uma vez que os progenitores deveriam estar à mesma sala dos filhotes. Por via das dúvidas, atacava.

     E foi então que, avançando entre sombra e escuridão, avistou um cenário aberto onde se podiam ver as estrelas. Criaturas que pareciam ora humanas ora seres de outro mundo erguiam-se como em estalagmites, e as águas agora que denunciavam finalmente a grande foz corriam mais brilhantes de que o normal, voltando à imagem de “falsa paz” proposta por Tânisa. Ao centro, um trono imenso de um calcário claro e acinzentado se destacava, governado por um esqueleto de proporções também gigantescas e longas tiras em vestes laranja claramente de nobres. Devia ter sido um regente importante e emblemático para aquele povo, e, apesar de agora estático e há muito sem vida, sua postura simbolizava um eterno pensamento, o qual deveria ser um bem precioso por entre a sociedade.

     Claramente ao grande palco se desataria um combate memorável, e o cavaleiro ficou pensando se algo parecido a um dragão mergulharia àquelas cenas...

     Tomou como referência o curioso assento real, e com os olhos mediu a proporção da sala. Suas botas de couro ainda vedariam a entrada de água, mas a fim de proteger melhor a inundação do cenário achou prudente colocar o talismã de resistência a eletricidade. A cada minuto, crescia no homem o desejo pela futura e certa aventura, misturado com uma satisfação irônica de vitória. Ele ali esperava, como quem estava sendo observado.

 

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     Respirações aceleradas, passos misteriosos, chuvas se espalhando por todos os lados! Eles se encararam... e se desafiaram em épico confronto.

     O que aconteceu ao nosso herói? Qual foi a adversidade da vez e como se desenrolou à disputa? Verdades se reservam aos olhos do cavaleiro, o qual finalmente conheceu suas profundezas desconhecidas.

     E assim, terminou-se mais uma saga do herói, com disciplinas e palavras a seu ponto.

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Aprendendo a conviver. (versão resumo)


     O autor inicia contando uma experiência própria de preparação para concursos, onde tem uma conversa com a inteligência artificial GPT sobre Lei Antitruste. Ele obtém sucesso em sua busca, mas visa tirar a objetividade do fato, comparando a norma com uma situação em que reis medievais se unem para prejudicar outrem, metaforizando assim formação monopólios e cartéis. Vemos que a IA, além de ajudá-lo a compreender tais conceitos, traz reflexões éticas e filosóficas sobre tecnologia e criatividade.

     Debate-se, com isso, que estudar em casa exige responsabilidades: com disciplina, o aluno pode buscar conteúdo confiável na internet, escolher ritmo e aprender de formas diferentes. Contrapõe dizendo que aulas presenciais oferecem foco, especialistas para tirar dúvidas na hora, além de quebra de uma certa atenção difusa. Ele engloba tudo ao cenário experenciado na pandemia da COVID-19, e mostra que é possível adaptar a rotina e transformar a casa em espaço de aprendizagem, fazendo ainda um paralelo com gerações próximas e distantes à tecnologia.

     Conclui dizendo que a IA pode ser uma grande aliada: ensina, organiza ideias e até inspira a escrita criativa. Porém, alerta que é preciso refletir sobre o futuro e criar limites claros para seu uso, garantindo que a tecnologia complemente, e não substitua, o esforço humano. Chama essa reviravolta de contexto como “plot twist” moderno, reconhecendo que é natural sentir medo e receio, mas que neste “mal” está a chance para aproveitar oportunidades sem perder a responsabilidade, o pensamento crítico e a sensibilidade que só o ser humano tem.

     A mensagem é que tecnologia e estudo caminham juntos, e, havendo equilíbrio, podem transformar aprendizado, criatividade e inovação em algo positivo para o futuro.

 

Davi Dumont Farace.

A primeira crônica.

  A primeira crônica.         — Mas que calor é esse! Será que existe vida após 3.020?      O mês era junho. As folhas caíam... mas a te...