Educação para loucos... e normais.
... Antes do texto, falhei já por não
ter postado nada aqui quinta passada. Mas, é que domingo retrasado (23/06/2024)
fui surpreendido com uma mensagem muito auspiciosa e que, captei mais ainda
como um falar dos Astros, pois estava eu jogando Hogwarts Legacy com,
justamente aquele personagem (que logo vocês conhecerão!)
Ainda nessas lembranças auspiciosas,
escrevi esses texto quando fazia uma disciplina na FaE chamada "Psicologia
da Educação" (que, não ligo pra isso, mas meus pokémon e eu conseguimos
100). Também, acho que desde sempre tendia mais para assuntos abstratos, tipo
"alma e coisas roxas de intelecto e pokkettomonsutaa psíquicos".
Agora, o texto:
Educação para loucos... e normais.
O filme “Laranja Mecânica” (em título original “A Clockwork Orange”) foi
publicado pela primeira vez em 1972 e relançado em 26 de abril de 2013. Logo no
início da história observa-se um grupo de quatro amigos, com roupas de mesmo
estilo e que nos faz lembrar camisas de força, o que pode deixar-nos pensar que
tal filmagem se passará em um hospício e/ou os próprios personagens principais
são loucos. Também observa-se que o título do próprio filme não é comum e não
diz nada sobre “como” a história poderá se desenvolver. Logo, não é fácil se
imaginar o que ou como uma “laranja mecânica” seria. Poderíamos supor que,
vendo o título e o associando às características dos personagens, o desenvolvimento
dos fatos no filme serão rápidos e todos eles processados para virarem suco
depois, pois o próprio enredo, que pode ter no mínimo uma carga filosófica,
“condensa” todos os sólidos acontecimentos na mente de uma única pessoa, Alex,
um dos quatro amigos, que logo depois de algumas cenas descobrimos ser
absolutamente normal, apenas um delinqüente juvenil com tantos outros.
O protagonista Alex, que é também o narrador da história, finalmente é pego em
flagrante e vai para a prisão depois de uma invasão em uma residência. Seus
amigos, que também eram os cúmplices do “assalto”, fogem antes da polícia
chegar. O jovem então é condenado pela grotesca e no sense morte
da dona da casa, e a partir daí a vida dos quatro “loucos” tomam caminhos
diferentes.
Depois de dois anos na prisão é que o enredo do filme começa e ficar ainda mais
filosófico e educacional. Isto é, ao desejar ir, “ser escolhido” como cobaia
para o método Ludvic, e passar algumas semanas em uma espécie de prisão-reformatório,
o ex-detento realmente começa a mudar, porém dadas à algumas circunstâncias
posteriores, não sabemos até quando. Alex fôra exposto a uma técnica
comportamentalista de estímulo-resposta; e pouco mais de quatro meses depois
finalmente foi solto.
O questionamento que o pastor da ex-prisão do jovem faz é inteligente e de
total importância também para a conclusão do filme. Ora, ele reconquistou sua
liberdade física; o direito de ir e vir; mas sua mente fôra trabalhada para
isso; através dos filmes e da curiosa Nona Sinfonia de Beethoven, que é
inserida em um contexto diferente daquele para o qual fôra composta.
Relembrando o método de ensino tradicional, onde há também essa tentativa de
“controle”, a mente de Alex é lapidada através de estratégias psicológicas para
enfim “trabalhar” como terceiros desejam, abandonando seu antigo gosto por
atitudes “de louco” e delinqüentes.
Porém depois de tantos anos preso, o protagonista perde sua antiga e “calma”
vida na casa dos pais. Achando que não vão ver o filho novamente, os pais
alugam o quarto de Alex e o jovem, se sentindo trocado, sai de casa para não
mais voltar. Andando sem rumo ele encontra um mendigo, que por ironia do
destino é o mesmo indigente que o ex-detento e sua gangue espancaram sem
necessidade logo no início da história. Logo, o feitiço vira contra o
feiticeiro e os mendigos se juntam para bater em Alex. Dois policiais o
socorrem mas por fatalidade são ex-integrantes da gangue. Aqueles que deveriam
fazer justiça o levam para longe e fazem novamente atrocidades com o rapaz.
Meio tonto e cansado, chega à casa de um velho escritor, o qual a ex-gangue do
ex-detento um dia invadiu. O velho então o mantém em cativeiro por um tempo e
depois chama os antigos médicos do jovem para juntos decidirem o que fazer.
Assim ele é colocado em uma sala vazia somente em companhia da Nona Sinfonia de
Beethoven, que toca interminavelmente no aposento e o deixa ainda mais louco.
Vendo uma janela como a única saída do quarto, acaba por cometer suicídio.
Novamente por ironia do destino ou não, ele não more. Vai para um hospital para
tratar suas fraturas e um belo dia recebe a visita do dono de sua ex-prisão,
que tenta mais uma vez “controlar” a mente do pobre Alex e fazer com que não
comente sobre o ocorrido nos jornais. Depois de pouco mais de duas horas de
filme re-escutamos a música, que o visitante benevolente traz para o adoentado
como presente e “lembrança” da visita. Como gran finale, temos uma
cena aparentemente desconexa da história. Porém, se olharmos o inconsciente de
Alex descobrimos que pode ser verdadeiramente aquilo que ele está pensando no
momento, pois não há como se apagar o passado.
Aparentemente um filme louco e um tanto previsível no começo, contudo
inteligente e bem montado no final. Mostra como uma técnica educacional, o
método comportamentalista, pode ser eficaz somente nos primeiros anos de
tratamento, pois a vida de um indivíduo é bem maior e mais complexa do que uma
simples prática pedagógica. Logo, um indivíduo pode assim como Alex mudar,
porém depois de re-colocado no mundo e sofrer nas mãos de pessoas de seu
passado e/ou alheias à sua história, por exemplo, poderá voltar e mesmo que
inconscientemente revidar a situação.
Em conclusão, podemos alocar “laranja mecânica” em, dentre outros, três
ambientes distintos: prisões / reformatórios, política, e religião. O primeiro
e mais evidente se visa “remodelar” um indivíduo segundo um pensamento próprio,
com algumas estratégias tipo trabalho voluntário e acompanhamento psicológico;
em segundo lugar se mostram aqueles que estão no poder e não se intimidam ao
falar de corrupção, e ainda se alguns novatos entram e querem fazer uma coisa
nova são deglutidos e inconscientemente controlados por terceiros; por último
mas não logicamente nessa ordem estão aqueles que através de alguma crença ou
outra “mudam” ou “visam mudar” um “fiel” em benefício próprio ou torná-lo de
acordo com as crenças da sociedade.
Logo, uma prática pedagógica perfeita e 100% eficaz não existe e ninguém pode,
como é o sonho de muitos, “controlar” a humanidade e fazer tudo ser do jeito
que deseja o indivíduo. A vida de cada um é única e não pode, nem deve, ser
controlada.
Davi Dumont Farace. 10/09/2015 – 12/09/2015
Excelente resenha! Parabéns!
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