sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Personagens em busca de outros personagens.

 

Ando por aí querendo te encontrar.

Busco por você querendo entender,

Em cada esquina, paro em cada olhar.

a sua história, já vamos escrever.

Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar.

Portais, me digam, a gente poderá se ver em Amjstérd?

Que o nosso amor pra sempre viva!

Que nossos romances sempre floresçam...

Minha dádiva!

Em nossas verdades!

Quero poder jurar que essa paixão jamais será...

E que essas Crônicas vejam a luz de um dia contribuir...

 

Palavras (...)

Histórias marcantes! Histórias, que se fazem! Histórias... Momentos!


                                   Davi Dumont Farace.

                                                              28/08/2024


Referência:

https://www.letras.mus.br/cassia-eller/44927/



sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Eu não sei, só sei que foi assim...

 

Botando já essa carroça na frente dos bois, obrigado pela audiência! O que lerão hoje pode ser um primeiro capítulo de uma novela, que dei o titulo de "Eu não sei, só sei que foi assim". 

Não são capítulos para seguir uma sequência e você encontrará aqui textos independentes (com início, meio e fim no próprio texto) e um material de leitura ágil, que visa explicar algo pelas mais variadas variantes que variam por entre várias variedades. Entretenimento sem compromisso!

Ps: nesse texto em específico você encontrará um linguajar mais coloquial e sem muita rigidez gramatical. Mas, como diz o outro, o importante é comunicar. E "não sei, só sei que foi assim".


O cabrito que virou bode. 

   Era junho de 1970 no interior das Minas Gerais, no distrito de São Bernardo das Águas Verdes, que pertencia ao município de José Olímpio dos Lobos, onde nem todos possuíam energia elétrica...

   -Ernesto, dispois du sirviço quero que tu vai lá na casa do vizim e pega aquele cabritu qui u Mário incumendou pra hoje. O rasta-pé vai sê as seis e já qui nois ficamo de levar a “ceia”, temo que chegá lá cuá minha carruagi com mais o menos uma hora di anticidência!

   -Mais senhor... ispia o tempo! São Pedro tá bravo hoje, e mesmo assim se já parar de chover, aquela sua carroça não vai aguentar de lama... a gente pode até demorar mais no caminho e o cabrito esfriar. Eu acho mió...

   -Num acha nada, quem cocê pensa qui é pra mi dá ordi! Era só o que mi fartava... chispa, vai arrumá o feno e dá pros cavalo e esteja qui pronto às quatro i meia, temos que sair às cinco!

   Ernesto saiu em direção ao estábulo para tratar dos cavalos e Josué, seu patrão, ainda o ficou observando por dez minutos e foi rapidamente para a casa tomar seu banho. Josué não passava nem perto de ser um “bom patrão”. Era uma pessoa ranzinza e metódica. Tudo que ele pensava estar errado deveria ser consertado do jeito dele, ou caso contrário, era capaz de brigar com tudo e todos ao seu redor. Mário nem queria chamá-lo para a festa, mas resolveu convidá-lo, porque era final de copa do mundo e como ele era praticamente o único da região que dispunha de televisão em casa ficou com pena do pobre Josué perder aquele espetáculo.

   Passada uma hora, Ernesto já estava esperando seu patrão na porteira do sítio...

   -Vem rápido homi de Deus, eu tô com medo da chuva... Será que não é melhor a gente pegar carona no carro do vizinho?

   -Larga di sê beista sô, a minha possante dá conta di tudo!-  Josué bateu de leve com a mão direita na parte da frente da charrete e um dos nós que amarravam a lona da parte de traz quase arrebentou  -Agora vamo qui vamo! Vem, ôcê trabalhô muito e deixa qui eu tomo as rédia... Pó discansá.

   -Obrigado, mas acho que não dá porque essa estrada tá perigosa e piora se chover.  Ernesto continuava a falar calmamente ao lado do patrão.- Vamos fazer o seguinte, o senhor fica olhando o cabrito e deixa qui eu conduzo.

   Josué pensou e repensou por cinco minutos e depois da esperada bronca que o empregado levou o patrão rapidamente pegou as rédeas da charrete e ela começou a andar.

   São Pedro não dava descanso no céu e Ernesto já matutava como seria uma dificuldade cruzar aqueles 26 km de chuva e lama com o meio de transporte escolhido. Porém, agora só pensava em ajudar seu patrão a chegar são e salvo no arraial de Mário...

 

   O grande dono da festa já estava impaciente frente à porteira de madeira ao lado do jacarandá. Já eram quase seis e dez da noite e Josué ainda não tinha chegado.

   Sempre que podia, Mário tentava “levar o título” de fazendeiro mais amigo e companheiro da região. Já tinha até se candidatado ao cargo de presidente da Associação de Moradores do Campo, mas por ser uma pessoa meio que ignorante, todas às vezes perdia para D. Margarida, uma mulher culta, porém simples e de menos posses.

   -Patrão, não quero te amolar muito não, mas que horas o cabrito irá chegar? O jogo será as oito e meia, já confirmei pelo aparelho que a gente vê gente em uma caixa de vidro. Mas se o senhor quer fazer a quadrilha, é melhor andar rápido!

   -Por favor Luiz, me chame só de Mário! Não gosto de sê chamado de patrão.-  ele falou entre risos.-  Yerr, vamos preparar a quadrilha, essa copa deu certim cuá noiti di São João. Sabia que u Josué iria atrasar cuá encomenda...

   Os dois caminharam em direção ao centro da fazenda onde os convidados já estavam conversando despreocupadamente ao redor de um palanque coberto com forro azul. Passados dez minutos, Mário anunciou a quadrilha e rapidamente quatro meninas já começaram a buscar o par e puxar a grande roda. Dentro de pouco tempo, todos já estavam dançando.

   - A ponte quebrou!-  Maria, uma convidada com vestido de flores e um laço vermelho no cabelo falou ao alto falante. - Êta forró arretá di bom sô!... Oia a onça!

   -Filha, não tem onça na quadrilha.-  José, o pai de Maria berrou sentado à mesa do lado da fogueira.- Ah, é mió bebê quentão du qui ouvir essa fia falando...

   -Uai Pai, agora tem... Nessa quadrilha, se nu tivé trem a gente bota... i cumé qui ér pessoar?!?

   -Éééééééééééééééé!

  

   Distante do arraial, Josué continuava a brigar com Ernesto pela estrada afora. O patrão queria sempre bancar o sabichão da historia e somente depois que levou a charrete pelo caminho errado, deixou seu empregado conduzir um pouco.

   -Está vendo Seu Josué, se o senhor fosse guiando todo o tempo, nunca que íamos chegar ao arraial a tempo. Além do mais, ispia! A noite já vem chegando e esta estrada tá um breu. Reza pro seu cavalo ter uma ótima visão no escuro! Ai meu São João, já são seis e vinte e nóis ainda estamos a 8 km de distância da festa... e o Tornado, seu cavalo empacou! Pelo menos... qui bom qui a chuva não veio...

   -... Eu num falei cocê qui ela num ia sê beista de dar as caras hoje só pra istragá as festança do patrão? Para de se perrcupá homi di Deus, a gente vai chegar lá uma hora!... Ma... mais Ernesto, tu vai passar por aí? Diz que t... tem assombração!

   -Larga di sê besta, sô! Como num é "beista" que fala não, tem nada disso aqui... - o empregado agora imitava a fala e os gestos do patrão.- Não foi o sinhô mesmo que disse istrudia qui essas coisas não existi?- Ernesto falava, enquanto olhava sarcástica e misteriosamente para Josué. - Alto lá, alto lá, e alto lá... Se sou eu que tenho medo, por quais cargas d’água você já tá quase mixando nas calças? Há-há!

   -Arrrto lá digo eu! Impregadinho beista sô... Ouvi um cau...causo que istru...istrudia a Rosinha ta...tava p...passando por e...es...essas bandas a noite...

   -Já sei... a patroa tava passando e uma das “cabeças fantasma” da estrada começou a murgir e correr atrás da coitada... – Ernesto mudou repentinamente a voz para um tom macabro e rouco. – e depois, Rosa nunca mais foi vista... Há-há-há-há-há!

   -Paaaaaaaaaaaaaaara homi, tá me ass...assussustano cada vez mais! E fala baixo... você não sabi si os ispíritu tão com rávia de alguém... já eu nem quero saber mais de Rosinha, eu só não que...quero ir lá p...pra discub...brí. Só sei que foi assim.

   Logo a sua frente, na curva da estrada surgiu uma enorme cabeça branca flutuando como se fosse uma vaca sem corpo.

   -Vixi! Virgi Maria Pai nosso das Água Verdi - diz Josué apavorado. - Que é isso homi de Deus? Já ouvi falar em mula sem cabeça, mas vaca sem corpo nem sabia.     

 

   -É clara a fúria dos espíritos desta estrada, podemos ver pelos seus olhos! - o outro continuou a brincar com a cara do patrão durante um tempo, depois pegou uma lanterna na charrete e corajosamente desceu para ver de perto a “assombração”. - Ah não patrão, a vaca me pegou... - e... iluminou o resto do animal. - Larga di sê beista o sinhozinho! Seres ruminantes ruminam sempre em seus caminhos ruminatórios. Li essas frasi elaborada num livru de suspense certa veis... Sua cara... Vixi digo eu. Vô te ispricá. - e mais uma vez imitou a voz de Josué. - Estava já tudo escuro e o corpo desse ruminanti é preto, por isso a cabeça estava flutuando! Ela teria conseguido te impidí de chegar nas festa, não fosse teu trabalhador responsaver que tá aqui.

   O empregado parou, riu um pouco da cara do patrão e depois voltou para a charrete. Finalmente o cavalo resolveu andar de novo e os dois ficaram quietos sem se falar. Mas depois passaram 30 minutos e Josué quebrou o silêncio, perguntando com voz de menino que se redimia para Ernesto:

   -Então vamos falar agora sobre u “ruminá”, me insina a falar como cês fala. Vamos lá... Eu rumino... e depois?

   -Ô meu Pai das Águas Verdes, eu mereço esse trem que não sabe nem falar direito. - e olhando com pena para seu patrão, falou rapidamente. - Só te ensino se tu me pedir desculpa por tudo.

   Os dois finalmente fizeram as pazes. Ernesto sabia que pela cabeça teimosa de Josué, aquele momento de calmaria iria durar pouco tempo e resolveu curti-lo ao máximo.

 

    -Ah, meu cumpadi Josué... que bom que chegou! Como tem passado Ernesto? Se meu amigo judiar de você nessa colheita, pode vir trabalhar aqui comigo...

   -Sempre engraçado você, não é Mário? - Josué de repente deu uma cotovelada de leve em seu empregado. - Sinto muito, mas eu ainda sei como se tratar bem um empregado da minha pequena propriedadi... E diga lá homi, que horas é o jogo?

   Eram quase oito da noite e todos na fazenda vieram cumprimentar os dois convidados de uma só vez. Muitos, é claro, de olho no cabrito. Porém como a comida tinha esfriado com a viagem, Mário mandou um de seus homens a esquentarem no forno a lenha para depois todos comerem durante o grande espetáculo da noite.

   A hora mais esperada da festança chegou e o anfitrião subitamente fez um sinal para os sanfoneiros pararem de tocar. Agora todos os convidados se reuniam na grande sala de estar da fazenda para se maravilharem com aquela “caixa mágica” por cima da mesinha de madeira.

   -É um, é dois, é três! - o dono da casa ligou o aparelho e algumas pessoas lacrimejaram os olhos. - Pronto! A magia da T.V agora tá mais pertu di nóis... Tensão, o jogo começou... vai cabra, pega a bola e faz gol!

   -Ô fia... é muita emoção! - Marta, uma convidada que beirava já os 42 anos, falou com os olhos molhados para sua filha Janete.

   -Que coisa maravilhosa! Brigado Mário, istrudia quero repô u convite...

   -E será bem vindo Chico! Que bom que gostou.

   -Já tô uma poça d’água, é muito emocionante!

   -Para com isso Viví... se não o seu Zazá também chora...

   Margarida, a mulher “rival” de Mário quando se tratava de eleição para presidente da Associação de Moradores de Campo, que estava vendo todas aquelas pessoas maravilhadas pela magia daquele objeto, resolveu falar e tentar esclarecer a situação:

   -Pois é. É uma maravilha essas novidades da tecnologia que vêm chegando, estou certa, Mário?

   - ...Sei de ticnologia não, dona. Mas não é a tumada qui eu ponho no buraco e ela liga? Ticnologia, palavra difícil. Sô homi do povo, né não minha gente!?

   -Uai uai uai... Não Mário, ai meu Deus do céu! - Margarida abaixou um pouco o tom de voz. - Marinho, achei que você por ter essa fazenda toda e ainda por cima querer ser presidente da AMC um dia... achei que você sabia que é o satélite que transmite a imagem das T.V's... Arrr meu Santo Bernardo. Não é mágica nenhuma, só pura tecnologia!

   -Apoiado! A patroa é intiligente, ela sabe das coisas. – Alice, a única empregada de Margarida falou ao lado de José, e poucos minutos depois, mais algumas pessoas resolveram também apoiar a atual presidenta.

   -Não... cê tá errada mulher... Tem satélitu coisa ninhuma!

   -Apoiado! É por isso que eu voto em você. – Josué, seguido por muitos convidados que não eram tão bem instruídos e gostavam de criar uma boa polêmica, se levantou e ficou ao lado de Mário.

   -Vírrr sua fidida? O povo tá do meu lado e eu vou falar... se eu digo que não tem satélitu é porque num tem, ora! Ta veno us pos’ti’luz?  Basta um fiapim da coisinha brilhante que passa dentro deles pra gente podê ver a imagi na caixa!   

   -Calma, não se irrita homem de Deus! Mário, Mário? Não creio... um político ilustre como você! Como acha que a coisa brilhante desce pelo cabo de luz?

   -Tu qué sabê di uma coisa. - Mário correu vermelho de raiva para perto da mesa onde ficava a T.V e com um rápido puxão desligou o aparelho.

   -Íííííí gente! A caixa misteriosa apagou pela assombração da vaca! - um senhor de seus 86 anos, que estava mais dormindo do que acordado, exclamou subitamente.

   -Repete, repete na minha cara qui issu é verrrdade! Vai Margarida... bota, põe seu satélitu aí e “rissuscita” a T.V, vai! - Mário olhava como um galo de briga para sua rival enquanto Alice comia os últimos doces da festa. - Ô mia fia, sê não vai pô... eu num deixo... Arrr quekô fiz pra miricê issu, xiiiiiiiiispa! Vai, vaza daqui de casa e... - Mário olhou ao redor de si e seus olhos pararam em cada um que ele achava estar errado a respeito do satélite. - Vão embora daqui cês tudo! Não quero gente qui credida em satélitu mais aqui não! Margarida, tu pode sê a primeira a ir embora... dispois vai você Alice. Tchau Pedro, tchau Ana, tchau Crareti... Tem mais cabritu pro cês não!

   A cena foi quase que um arrastão! Mário começou a expulsar mais de um terço dos convidados.

   -Ninguém vai ver mais jogo coisa ninhuma! Vamo, eu e os meus amigos vamo comer cabritu, não pudému nus misturá kuéssa gentalha!

   E... finalmente o cabrito chegou à mesa de jantar da fazenda, porém só quem não tinha sido expulso conseguiu comê-lo e o causo virou notícia.

 

     Davi Dumont Farace.

            Início: 06/07/2011

               Final: 09/07/2011

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

O jardim

 

Nada sei...

    Eu tenho um jardim, mas não posso vê-lo

     Eu tenho uma casa, mas não posso habitá-la

      Tenho eu uma janela, pela qual não posso olhar o amanhecer da alvorada

        Mas graças a Deus tenho você que me ensina a olhar adiante

                   E seguir...

 

  Como a vida pode ser tão bela se olhar da janela

    No íntimo de cada alma humana

   Ou não

      No íntimo de cada coisa, de cada objeto

               Vejo uma alegria que

            Às vezes se renova

             Às vezes cresce

                 Às vezes se compadece.

 

  Acho, não sei

                                             Em meus delírios de eterna alma vagante

   Que muita vida ainda pode ser vivida

 Aqui...         lá..         em qualquer lugar.

 

  Existem ainda muitos heróis na Terra

  Não precisam ter poderes fantásticos como Harry Potter ou Percy Jackson

       Não precisam ter origem no sagrado Monte Olimpo como Hércules e Perseu

  Somente precisam ser mais humanos para com o mundo,

 Pois não quero, não posso e não espero

Que a vida seja feita de ilusão

           Mesmo que alguns tenham que reaprender...

                                         Como se abrem as portas do coração.

 

 Fecho os olhos, tranco a mente, mas abro a alma

     Aquela mesma, de alguém que sonha por mim

            Daquele que posso contar nas batalhas

     Nas derrotas

            Nas ressurreições

        Aquela que nem eu mesmo sei se vou encontrar

        Penso que ela está tão longe

          Não voltará jamais

        

                    E quando beberdes deste cálice eterno

            Dum elixir que não sei se pode ser

               Dum perigoso monstro que você acorda um dia ao alvorecer

          Ou dos anjos da amada Terra que suas assas se partiram

              Verás que tudo o que queres

             Amores, dinheiro, fama, alegrias mil

                                 Muitas pessoas, um dia com certeza vai achar

       

     Não sei, quem sabe, só por um vago momento,

                 Por uma vaga estrada, por um largo caminho

                  Por um instante poético de vaga iluminação

   Talvez naquele último sorriso

          Naquela última vida

                Naquele derradeiro lamento

      Tudo

              Tudo

                      Canso-me de tanto tudo

      Mas um dia sei que posso em ti confiar.

 

             Planto sementes, colho frutos

       Frutos estes que seus perfumes exalam no ar

         Em meio a tanta discórdia

          Tanta desigualdade

              Tanta violência

Ainda colho frutos

 Planto emoções, recebo corações

 De vocês que eu nem sequer conheço

  Mas valorizo o doce som

  Do amor platônico

          Da amizade verdadeira

       Das gotas da chuva...

 

           Podemos abrir de novo a caixa de Pandora

       Renovar a esperança de um dia melhor

          Pois

       Em todas as galáxias, planetas, biomas

         HogwartsAmistérdPasárgada, vasta Terra...

         Existe alguém nos esperando

 

                Eu tenho um jardim

  Onde planto flores de alecrim.

 

                                   Davi Dumont Farace.      23/07/2.010

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Hogwarts: Uma História.

 “Eu juro solenemente não fazer nada de bom”.

Essa é a frase que se diz para abrir o Mapa do Maroto e assim poder ver os passos de todos que percorrem o colossal castelo de Hogwarts. Acho que o começo de cada coisa que se cria, quer sejam textos, jogos ou filmes, é sempre mais difícil e trabalhoso. Você pode iniciar suas criações por este ou aquele caminho, mas que à primeira vista já pode não agradar o leitor. Então ponho aqui hoje uma espécie de feitiço bem conhecido, ao passo em que faço com ele um esboço sobre o tema o qual já falaremos. Desculpe-me você também, pois meus escritos não são lá muito objetivos de modo que vão direto ao ponto; mas ainda assim esses momentos enfadonhos de introdução são importantes para não cairmos de paraquedas ao conteúdo, perdendo logo o interesse pelo texto por achá-lo rápido ou sem informação demais. Agora, pega a visão: o curioso artefato que nos possibilitava descobrir segredos em nossa escola poderá ser acessado a partir do ano que vem pelo recém-descoberto Livro de Merlin, material que nos foi apresentado em um dos trailers promocionais de Hogwarts Legacy.

O jogo promete ser de mundo aberto, evocando a boa nostalgia que tínhamos ao nos aventurar pelo castelo à pele de Harry Potter, mas também inovando ao possibilitar uma experiência mais imersiva e customizada ao mundo bruxo. À exemplo do herói, nosso personagem tem um passado notável e misterioso, e a cicatriz em formato de raio hoje se traduz em nossa habilidade única de manipular magia antiga e, graças a isso, ser uma figura central e decisiva na nova trama. Levando uma vida normal, nos matricularemos à famosa escola de magia e bruxaria de Hogwarts e logo iremos para uma de suas quatro casas. Infelizmente (ou não), ao que tudo indica não teremos o chapéu seletor ou qualquer recurso deste tipo no jogo, e a escolha entre Corvinal, Grifinória, Lufa-Lufa e Sonserina ficará ao cargo e ao discernimento do jogador. Progredindo nossos estudos, poderemos escolher entrar de penetra às outras casas ou não; e é daí que continuamos esse texto…

Notoriamente, uma empreitada desse porte para a empresa Nintendo abre o catálogo de seus jogos enquanto contribui para tirar um pouco do caráter infantil e “bobinho” da marca. Hogwarts Legacy não será igual à Harry Potter. Mesmo porque nosso “eu” atual descobre a magia apenas tardiamente e, sendo a celebridade que é, já ingressa sua vida estudantil no quinto ano; que é um período da história infanto-juvenil bem mais sombrio e diferente em comparação aos primeiros livros, diga-se de passagem. Agora, lincando isso ao começo do texto, podemos perceber que o tempo necessário para a “introdução” foi anulado para dar mais dinamicidade e noção de progressão ao jogo. Para usar um verbo muito usado por Albus Dumbledore, receio que não seja por aí. Mas de qualquer forma, acertando-se ou não essa magia no escuro, é notável seu aspecto… curioso. (Também para falar ao modos do Sr. Olivaras, quando a própria varinha mostra escolher o bruxo ao primeiro filme).

Você faz ideia de quantos “eu’s” você já criou na vida, leitor? Essa poderia ser uma boa e motivadora questão de Matemática e/ou Lógica para alunos de faculdade ou Ensino Médio. Imersos à esses ambientes digitais e cada vez mais customizados, manipulamos a vida de uma maneira muito prática e interativa, podendo re-escolher para nós mesmos desde nossa própria fisionomia às nossas internas aspirações e capacidades. Justamente por isso que citei lá em cima a questão do “‘eu’ atual”, o qual graças à nossa liberdade de jogador podemos criar pelo menos 4 personagens diferentes para descobrirmos os 100% dos mistérios e segredos de todas as casas de Hogwarts. Mas, como tudo tem dois lados e somos humanos e não somos máquina, isso pode criar um invisível e mágico patrono que flutua ao ar. Será que conseguiremos ainda separar o que é jogo e o que é vida real após tantos e tantos “eu’s”? A pergunta parece banal e criada por alguém que só está fazendo tempestade em copo d’água aqui, mas aí vem outra interrogação mais capiciosa: Será que todos nós conseguiremos ainda separar o que é jogo e o que é vida real após tantos e tantos “eu’s”?

Felizmente, muitos dos jogos digitais hoje em dia tem um sistema de moralidade que acarreta consequências ao jogador caso se opte por esse ou aquele caminho; e por efeito colateral certos NPC’s que mudam de lugar no mapa e resolvem falar ou não com você dependendo de suas escolhas. Pelos materiais divulgados vemos que estão confirmadas em Hogwarts Legacy essas ramificações de diálogo, mas, contrariando o que poderia ser um pensamento indutivo, o community manager Chandler Wood deixou a entender que o jogador não terá prejuízo em sua gameplay ao fazer uso de práticas menos lícitas ou mesmo maldições imperdoáveis. Então, desculpe-me novamente leitor, concordo que possa ser bom e até mais dinâmico a possibilidade de se explorar os ramos da magia em sua totalidade, e sei que, acima de tudo, Hogwarts Legacy não passa de um jogo; mas, além de ser também consenso que “a arte imita a vida”, o texto agora deixará a diversão de lado e se preocupará mais em assuntos éticos e filosóficos. Esta bem?

Há algum tempo atrás, enquanto fazia uma atividade para uma disciplina on-line de pós-graduação, li um comentário de uma aluna que estabelecia relações entre áreas bem opostas e que eu particularmente nunca tinha pensado: o Direito e os ambientes virtuais. Ela disse em um post que assim como temos de ter e seguir regras para vivermos mais tranquilos no mundo real, seria bom que se elaborasse uma constituição também para esse mundo particular que criamos com o auxílio de um clique. Ao pensar sobre essas últimas linhas, cheguei a escrever outros adjetivos que poderiam ser colocados ali para se referir à essa realidade que moldamos a cada dia, dentre eles o termo “imaginário”, pois isso não é uma coisa palpável, concorda comigo? Mas resolvi seguir meu diálogo pela palavra “particular”, pois isso pode ser uma realidade customizada, como que um puxadinho daquilo que tomamos por verdade. Muito além do clichê da pergunta sobre o real e o imaginário, notamos aí uma conjunção de duas esferas, ou um “alinhamento dos planetas” para dizer aos moldes de Astronomia.     

Podemos continuar batendo nesta tecla de que jogo é jogo e vida e vida até o amplo lançamento que ocorrerá em 10 de fevereiro de 2023, ou ainda até o glorioso dia em que Hogwarts abrirá suas portas para os usuários de Nintendo Switch. Unindo, então, a realidade com a comparação, poderemos afirmar logo de cara que os jogos no console portátil chegarão depois graças a placa ou a reposta gráfica que pode não ser tão eficaz como nos outros consoles, mas ao mesmo tempo extrapolar essa normalidade sem graça e voltar ao início do texto onde eu falava que os tempos de introdução são importantes e nos permitem entender melhor determinado texto ou situação. Hogwarts Legacy poderia no entanto, ser enfadonho e demorado demais caso iniciássemos nossos estudos corriqueiramente como qualquer um; e um tutorial básico daria conta hoje em dia de abarcar os primeiros anos de uma maneira mais resumida. Mas, já não é de nostalgia que estamos mais falando, mas sim da velha história de que arte e vida podem estabelecer paralelismo entre si. A criança ou adolescente está se formando ainda ué. Em processo de escolher suas verdades e aspirações. ... Mais fácil de ser... influenciável.

Lembro que quando estávamos meio chorosos e emotivos com o fim da saga do cativante bruxo de J. K. Rowling, li uma coluna de revista onde se relacionava aspectos do livro à fatos históricos de nosso mundo real. Ainda me fica à cabeça como o xingamento “sujeitinha de sangue ruim”, proferido por Draco Malfoy à Hermione Granger ao segundo filme, espelha-se em um pensamento nazista que pregava a superioridade da raça ariana. No mesmo filme, temos a questão dos elfos domésticos e da boa iniciativa de se criar a FALE (Fundo de Apoio e Libertação dos Elfos Domésticos), uma clara referência ao que entendemos por escravidão. Contudo, somos trouxas! Essas historinhas não existem e não tem como se estudar magia. Mas, ainda assim, é interessante e notável como a defesa para o feitiço “obliviate” pode passar pelas vias das analogias e verossimilhanças. Harry Potter aconteceu há muito tempo, mas o fenômeno nos mostrou que Dementadores são a representação da doença conhecida como depressão, e que os temidos Obscuriais servem de base para falarmos de assuntos chatos como preconceito ou repressão. Tudo faz sentido, leitor! E tudo se cria para contribuir com algo.

Esta bela arquitetura planetária que se forma continuamente nos céus nos diz que… tudo pode ser comparado! Desde que se faça um paralelo perfeito entre elas, até mesmo duas coisas aparentemente distantes podem ter relação. E, como elas têm relação, “cuidado, a Câmara Secreta foi aberta”. Por isso também que disse que é difícil começar qualquer obra, desde textos à filmes: porque temos algo muito valioso e poderoso às mãos. É como se este controle fosse a Varinha das Varinhas, e quem a porta pode moldar a sociedade e marcar para o bem ou para o mal a vida das pessoas que são de alguma forma tocadas por seus feitiços. Sendo assim, por exemplo, de tanto determinado indivíduo jogar um jogo violento sem nenhum trabalho de conscientização ou estudo por trás, ele pode inconscientemente achar que aquilo é normal; pois, no frigir dos ovos, é só um joguinho, não é vida real. E ninguém está errado. Por favor, não pense você que eu esteja aqui fazendo juízo de valor; pois estou no mundo e também jogo games violentos. Essa não é a questão.

Mas, porém, contudo, todavia, senão, entretanto, aliás, até mesmo um bruxo é pessoa. E essa frase não é esquisita quando você pensa que eles também são afetados por sentimentos, vontades, desejos e aspirações, quer sejam sentimentos próprios ou inseridos ao ser. É chover no molhado dizer que as obras podem mexer conosco de variadas formas, e agora inclusive sabemos que com a Varinha das Varinhas podemos direcionar esses feitiços por este ou aquele lado; imersos ao conhecido dilema sobre os caminhos do bem e do mal. Prometo que é a última grande comparação leitor, mas peguemos a casa verde e prata dos antagonistas da saga. Temos a tendência de achar que aquilo que é intimidante e visivelmente mais poderoso e competitivo é melhor. É como se o “imperius” real fosse essa atração por estas vertentes… misteriosas e fascinantes. Porém, lhe convido a mudar a perspectiva, mas ainda assim continuando na mesma rota. Merlin, por exemplo, foi um sonserino; e um aluno de Hogwarts que teve de existir, conseguindo ser nomeado e lembrado até hoje através da respeitosa Ordem de Merlin ou por histórias fantásticas mais reais. ...Sim, talvez soubemos que o bruxo do Rei Arthur foi da casa tempos depois de J. K., mas... não era o foco lá. É uma questão de perspectiva, e assim que as histórias são criadas. Vou procurar pensar em Merlin ao falar de Sonserina, não no Voldemort.

Passeando pelos meandros do castelo e dos trailers, vemos que não será exclusividade de alguns mais seletos lançar maldições imperdoáveis. E embora os livros afirmem que para fazer uso de tais práticas devemos realmente querer lançá-las, receio que pela proposta e fluidez do jogo isso agora não será mais pré-requisito. Aí lhe pergunto leitor: você ‘realmente’ acha que é legal e não tem nada a ver matar alguém em Hogwarts Legacy com o feitiço-que-não-tem-defesa somente para se divertir por aí enquanto se progride mais rapidamente em seus estudos? Isto é, depois de tudo que falei, receio que chegará uma hora que a esfera daquilo que é propriamente jogo se confundirá com a normalidade de nosso dia a dia. E quais são as maldições imperdoáveis em nossos dias de hoje, leitor? Ora, receio que tudo o que não contribui para a vida: drogas, fake news, intolerância..., e infelizmente mais do que somente três. Mas isso é uma história para um outro dia e os deixo com essas indagações. Devemos jogar com discernimento, pois não sabemos o alcance ou os efeitos colaterais desta Varinha das Varinhas fora de jogo. De qual casa você será leitor? Boa gameplay e bom divertimento!   


Davi Dumont Farace, setembro de 2.022

A primeira crônica.

  A primeira crônica.         — Mas que calor é esse! Será que existe vida após 3.020?      O mês era junho. As folhas caíam... mas a te...