segunda-feira, 13 de maio de 2024

Platão e BBB, combina?

 

Mito do BBB.

 

  Em uma aula minha de Filosofia no E.M me deparei com o "mito da caverna" do filósofo ateniense Platão (427-347 a.c). Desde criança sempre fui mais tentido às artes abstratas, e resolvi aprofundar-me ao pensamento grego. Ola leitor, que bom rever-te por aqui! Vamos continuar em mais essa viagem.

  A alegoria ilustra metaforicamente a tendência à inércia das pessoas, sendo muito mais cômodo permanecerem em uma "caverna" e não questionarem os modelos impostos pela própria época. De acordo (pois "tudo têm que ser de acordo", já diziam os antigos) com esse comportamento humano, elas muito provavelmente podem acostumar-se com as sombras projetadas nas "pedras da gruta", que logo não conseguem observar, e criticar, o que lhes é passado. Pensem comigo: A verdadeira realidade pode estar para além do que pensam ver, ora pois pois. Caso isso seja verdade, com o mundo real e seus acasos ratificando essa hipótese, permanecem cômodas e assim não evoluem o pensamento crítico.

   No mundo moderno, a televisão é uma das mídias que, gradativamente à meu ver, pode ser comparada com a alegoria platônica. Ela, infelizmente, dita as normas para o povo seguir e pode remodelar o conceito de uma pessoa sobre algum fato. Através das novelas, por exemplo, pode-se passar outro conceito de beleza, saúde e vida fácil.

Esse parágrafo, bem como todo o texto, o escrevi pratrazmente à 2010, aos 15-17 anos, acho. A T.V e o que nos é passado mudou e contribuímos também para essa mudança. Nos tempos de minha mocidade as madames acordavam mais fake sem rugas nem cabelo esgadanhado, os problemas eram todos resolvidos com casamentos e havia uma distinção clara de mocinho e vilão. Hoje, produções já estão mudando isso; mas como somos pessoas, há muito mais a ser feito. Relembrar-nos de textos como esse é bom para ver nossa evolução e não cairmos mais em fake news. Então, vamos continuar...  

   Um dos programas de maior audiência, o Big Brother Brasil, reúne um tantão de participantes em uma casa de luxo, onde eles podem ficar no máximo três meses, participando de provas e entretendo a população brasileira com brincadeiras e coisas do gênero. A ideia do programa é boa e é sim interessante. Pessoas são únicas e engraçadas por si só, e só isso resultaria em uma grande peripécia televisiva. Mas, e esse "mas" é agravado ao dinheiro que movimenta o programa (uma esbanjação sem precedentes onde parece que todo mundo tem tudo, ainda mais aqui no Brasil), não contávamos com as astúcias da audiência e nem das câmeras, que comparativamente essas lentes tornam-se como paredes de gruta, de uma excêntrica e vasta caverna 4K onde é quase impossível de resistir.

E o que fez a audiência? Vimos o prêmio dessa edição aumentar, novamente sem precedentes, como algo até bom para o beneficiado (que quem dera não fosse este apenas o mesmo nome do autor, kkk). Mas também... uma fake news sem precedentes levando-se em consideração o poder aquisitivo de maioria dos brasileiros. Bota pra girar o capitalismo!   

Como o prêmio em 2010 era de um milhão e meio de reais, as pessoas confinadas podem muito ter mudado o próprio jeito de ser, pensar e agir, para assim, conseguirem um lugar na final. O público todas as noites dava aquela famosa "espiadinha" para ver e posteriormente votar no(a) favorito(a) para ser o(a) novo(a) milionário(a) do Brasil. Com as apimentadas discussões e brigas na casa, um tantão de gente que consumia (e ainda consome BBB) tomava (toma) partido, vota, julga, condena e até se banaliza com imagens que podem ser ou não verdadeiras, metaforizando as "sombras do real".

   As reações dos participantes, que banalizavam as relações inter-pessoais, repercutiam no público de uma maneira que podiam se comprometer valores éticos, morais, sociais e culturais construídos ao longo do tempo pela sociedade. Mas, a gente gostava de ver o quê? Barraco, briga e discussão (desde que não fosse comigo... ahhh, eu gostava mesmo).

Mais de 20 anos de BBB também dá um interessante estudo antropológico, não? Até mesmo nessa pornochanchada, há coisas boas e coisas ruins, como tudo o que é humano.

   Só para finalizar, agora em fonte Arial 14 como se estivéssemos de volta ao passado, não gosto de assistir ao programa às segundas-feiras. Agora, a fim de sermos mais politicamente corretos, as brigas e desferidas de socos e pontapés condensam-se em um único dia. Ou melhor, em uma única noite, já batizada de "sincerão" (que, a depender da audiência e dos conflitos da semana, a discussão pode render horas a fio... e... o pobre que precisa trabalhar no dia seguinte e pagar suas contas...). Ora pois pois, rebatizo o "sincerão" de "desferidas de socos e pontapés" porque enxergo as palavras maledicentes igualmente como agressão e, logo, que deveriam ser proibidas pela produção. Mas, em vez disso, um leve tapinha de bêbado depois de uma festa é motivo fake news para expulsão!

     Mas, ano que vem, em 2025, estaremos assistindo; alguns com, outros sem critério; mas estaremos assistindo. Volto a ousar e dizer que a iniciativa para a atração parece ser boa e interessante; mas, igual ao "Mundo das Ideias e o Mundo dos Sentidos" (outra filosofia de meu amigo Platão), até o BBB parece ter uma forma que ao programa é excelente. Mas isso é uma história para um outro dia e nessa caverna receio que ainda não se avizinhe a saída. Quais novas sombras veremos nesse novo formato de inscrição em dupla?   

 

Davi Dumont Farace * março de 2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A primeira crônica.

  A primeira crônica.         — Mas que calor é esse! Será que existe vida após 3.020?      O mês era junho. As folhas caíam... mas a te...