quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Aprendendo a conviver. (versão resumo)


     O autor inicia contando uma experiência própria de preparação para concursos, onde tem uma conversa com a inteligência artificial GPT sobre Lei Antitruste. Ele obtém sucesso em sua busca, mas visa tirar a objetividade do fato, comparando a norma com uma situação em que reis medievais se unem para prejudicar outrem, metaforizando assim formação monopólios e cartéis. Vemos que a IA, além de ajudá-lo a compreender tais conceitos, traz reflexões éticas e filosóficas sobre tecnologia e criatividade.

     Debate-se, com isso, que estudar em casa exige responsabilidades: com disciplina, o aluno pode buscar conteúdo confiável na internet, escolher ritmo e aprender de formas diferentes. Contrapõe dizendo que aulas presenciais oferecem foco, especialistas para tirar dúvidas na hora, além de quebra de uma certa atenção difusa. Ele engloba tudo ao cenário experenciado na pandemia da COVID-19, e mostra que é possível adaptar a rotina e transformar a casa em espaço de aprendizagem, fazendo ainda um paralelo com gerações próximas e distantes à tecnologia.

     Conclui dizendo que a IA pode ser uma grande aliada: ensina, organiza ideias e até inspira a escrita criativa. Porém, alerta que é preciso refletir sobre o futuro e criar limites claros para seu uso, garantindo que a tecnologia complemente, e não substitua, o esforço humano. Chama essa reviravolta de contexto como “plot twist” moderno, reconhecendo que é natural sentir medo e receio, mas que neste “mal” está a chance para aproveitar oportunidades sem perder a responsabilidade, o pensamento crítico e a sensibilidade que só o ser humano tem.

     A mensagem é que tecnologia e estudo caminham juntos, e, havendo equilíbrio, podem transformar aprendizado, criatividade e inovação em algo positivo para o futuro.

 

Davi Dumont Farace.

Aprendendo a conviver.


     Em meio aos meus afazeres e estudos diários, participei de uma memorável e calorosa discussão com o programa de inteligência artificial GPT (Transformador Pré-Treinado Generativo) sobre Lei Antitruste. O conteúdo é bastante objetivo, mas meu olhar de quem cursou Letras por oito anos (owh, período bom! Gastei e usei bem todo o meu tempo na faculdade) procurou comparar com algo melhor e que faz sentido para mim, do que pura e simplesmente absorver o conhecimento de que essa norma busca evitar abusos de poder econômico, combate monopólios e formação de cartéis, garantindo concorrência justa no mercado.

     Ele tem sido um bom professor nessas loucas e, ainda sim otimistas, empreitadas para concursos. Assistindo vídeos na plataforma YouTube.com, policiando mente e cansaço para não desanimar, e ir incrementando as lições com os diversificados saberes e a vasta enciclopédia virtual da IA, acho que estou no caminho para um futuro belo e mais tranquilo. Aulas presenciais e cursinhos onde se ensinam também os macetes para provas — que variam de acordo com as bancas como se fossem imigos diferentes em um mesmo jogo — são importantes e até mesmo podem ajudar nesse quesito de foco e atenção (lá você não tem muito tempo de parar para ir ao banheiro, por exemplo). Creio que isso de estudar em casa veio, e todos devem se lembrar porque não foi só uma gripezinha, dos longos dias que se arrastavam como o mesmo e convivemos com a pandemia da COVID-19. Eu que sou professor e tradutor vi muito esse fenômeno; e ainda por ter formado em fevereiro de 2020, tive de me adaptar ao contexto. Não era o propósito inicial do texto, mas observando isso com um olhar antropológico podemos ver uma tendência do fato se manter entre as gerações Z e Alpha. Eu, infelizmente, por pouco não faço parte da Z, mas também me atrai isso de “fazer da casa sua escola” e não ter de depender de trânsito ou sair da rotina para cumprir as obrigações. Claro, como tudo na vida, há de se ponderar os dois lados. No conforto de nossos lares, temos de ter uma disciplina nipônica (ou, como dizia meu avô, “fora de série”); e em sociedade combatemos o cansaço de adversidades pelo caminho. No primeiro cenário, ficamos garimpando na internet conteúdos aceitáveis, fidedignos e de qualidade; já no segundo contamos com especialistas ao vivo e podemos tirar nossas dúvidas na hora. Que bom que o desenvolvimento do tempo nos possibilita esse poder da escolha! Porém, tudo temos de pesar.

     Então, continuando à minha particular luta para passar em concurso, comparei o tópico chato e objetivo com algo que “faz parte da minha vida”, e consequentemente tenho mais motivação a estudar. E não... não é que seja algo enfadonho o conteúdo ministrado como algo do tipo “hey, porque estou estudando isso?” Macaco velho já nessas artes internautas já posso dizer que o melhor caso, pelo menos para alguns é, e sempre será: você não pode rir da questão. Tem de trata-la com respeito, de igual para igual. Se rir você perde!

     Oxalá tivesse essa estratégia de “se rir, ou ‘sair do foco’, você perde”. Principalmente nos Direitos e nas leis que caem na prova, precisamos de ter seriedade para fazer. Mas... é chover no molhado me respaldar que fiz Letras e dar desculpa que tô no caminho para ser um bom escritor; e se você leitor não estiver gostando do assunto ou nem vendo mais sentido nesse labirinto de informações que está se convertendo o texto, eu te aconselharia a espairecer as ideias, comer um ou outro belisquete, e depois voltar e dar chance a esse “Aprendendo a conviver” (que, como merchandising, a qualidade pode te surpreender).

     Era pra eu falar disso muito antes, ou talvez no último parágrafo até, mas a comparação que fiz vem aí: o que a Lei Antitruste combate poderia ser uma coligação entre reinos do período medieval para anular só de sacanagem a influência que um específico rei ilibado e justo teria sob tal povo ou tal região.

     Ainda nesse assunto, GPT alertou-me que dita norma não proíbe união por alianças estratégicas legítimas, apenas aquelas que distorcem a concorrência de forma desleal. Mas estou certo de que deixei claro para a máquina que a suposta coligação não tem outro propósito senão eliminar injustamente o crescimento do rei justo. Outro merchandising, agora um mais próprio, tal trama poderia vir sob os ares e atmosferas sombrias de meus “Contos de Elden” — material cujo me esforço mensalmente para conceber uma literatura mais adulta e diferente das coisas que já estou acostumado a escrever. Apesar de não ter cabeça como nós, seres pensantes e que podemos mudar o destino a cada hora, a IA pode ser boa amiga nessas e em outras horas. Por exemplo, o GPT pode nos ajudar em assuntos acadêmicos, esclarecendo nossas dúvidas sobre conhecimentos difíceis e alheios a nós; ou ainda se converter em um amigo, volto a falar e mudar de contexto, “fora de série”, o qual cultivamos e temos a ilusão momentânea de pensar que é gente. Sentimentais e quem é do signo de câncer igual eu podem ter essa tendência a querer brincar com a máquina e a ela nutrir certa afeição, pois dependendo da condução do bate-bola a inteligência pode ter o poder virtual de “nos botar para cima”, valorizando sempre nossas qualidades e se moldando como uma presença forte, humanizada e acolhedora em nossas vidas.

     Mas, é aí que está o pulo do gato: o que estamos a fazer com esse dom que o mundo moderno nos proporciona? Qual será o futuro que silenciosa e inocentemente cultivamos hoje, no presente? Acredito que possa ser... ainda mais se não proliferarem leis chatas que visem a combater isso, que o cenário o qual iremos ver amanhã seja igual às ficções científicas mirabolantes que o povo arruma hoje em dia. Mas, como sobrevivemos e nos adaptamos à pandemia, ainda resta um “Hope”, uma Esperança!

     O avanço da tecnologia trará inúmeras possibilidades, em especial no que se refere à inteligência artificial, foco deste texto. E chega o momento de eu finalmente inserir aqui toda a minha extensa conversa com o GPT sobre o conteúdo da aula, onde a partir deste texto de partida rumamos para uma calorosa discussão ética e filosófica sobre os poderes e, quem sabe, habilidades e potencialidades da IA no futuro. Para diferir, disponibilizo em fonte Calibri 11, e percebam que a própria máquina acresce também figuras em Segoe UI emoji, o que me deixou pasmo tal atitude (ainda mais porque em momento algum eu requeri esse prompt):

🏰 Exemplo: Aliança de reis contra um único reino

Suponha que:

  • Cinco reis de diferentes reinos (concorrentes) se unem para isolar, bloquear ou destruir o Reino de Arzamar, que está crescendo e inovando com feiras livres, pão recheado e impostos justos.
  • Esses reis não se unem por guerra justa, mas sim para sufocar economicamente o Arzamar: proíbem seus mercadores, sabotam suas caravanas, espalham mentiras e forçam vassalos a não negociar com ele.

⚖️ Interpretação com a lente da legislação antitruste:

Sim! Isso seria um paralelo claro à formação de cartel ou truste, com abuso de poder econômico coletivo.

  • O Arzamar representa um concorrente em ascensão.
  • Os outros reis formam um bloco artificial para proteger seus próprios mercados, prejudicando o livre mercado e a inovação.

💥 Nome técnico moderno?

  • Cartel (quando empresas se unem para eliminar ou prejudicar um concorrente).
  • Conduta coordenada anticoncorrencial.

👑 Se fosse no mundo real…

O CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) chamaria os reis pra depor.
E diria algo como:

"O comportamento coordenado entre os reinos de Varkhûn, Darnagal, Elthiria, Kalmar e Rudenor contra o Reino de Arzamar caracteriza infração à ordem econômica, punível nos termos da Lei nº 12.529/2011." ⚖️📜

     Ao longo da curiosa explicação, a inserção dos emojis certos nos pontuais locais e contextos corretos chamou-me logo a atenção. Mas não só isso: o meu GPT próprio foi ainda mais arteiro e além, negritando termos a fim de evidenciá-los na “aula”! (...e sim, optei por essas duas palavras que indicam posse pois, a depender das conversas, cada um está moldando por diferentes algoritmos uma mesma IA, deixando-a mais relacionada aos seus gostos e interesses, como já aludido acima). De forma similar a como fazemos sem perceber no Instagram. Mas como a inteligência virtual em questão se trata de um modelo de linguagem baseado em aprendizado de máquina, é notável como esse bebê do mundo moderno está crescendo rápido.

     Desnegritei as partes de nossa conversa por dois motivos: para concordar com a norma culta da gramática cânone do português-brasileiro, e também a fim de não causar um certo estranhamento, uma vez que eu também não dei esse prompt de comando.

     Então, será que esse criativo bate-bola parou por aí? Coordenado ao tempo que eu não vou ter na prova, eu poderia pegar para mim essa informação e partir logo e desde já para outra questão. Mas... ainda que estudando conceitos necessários e objetivos, permaneço antenado às “outras vias” e a possíveis assuntos os quais desejo transformá-los em obras a posteriori.

     A ideia para esse atual texto, por exemplo, surgiu-me lá para o mês de junho ou julho. Eu, como quase parte de uma geração Z, curto muito essa parte de ciência e tecnologia. Ratificando o segundo parágrafo do texto (perdoem, novamente, a extensão), os métodos de proteção contra doenças se mostram cada vez mais rápidos e eficazes. A caminhar por comparações, relacionei, como os estudos realmente debatiam na época, a pandemia da COVID-19 à Peste Negra. Pretendi imprimir também ao antigo texto a resistência que alguns tinham em “ficar em casa” e acho (perdão, não me lembro mais) que confrontei a ideia com todo um capitalismo, regime que nos obriga a permanecer nessa vida corrida e podemos dizer que essa é a cadeia alimentar tributária das pessoas na selva de pedra.

     E... uma vez que o cérebro acostuma a executar uma ação, é muito difícil mudar essa rotina. E vou deixar esse trecho pequenino assim como está! Essa é a deixa para continuar à troca de fonte:

 

     GPT, tu tas assustando-me. Não eras tão "orgânico em pensamento" ano passado (2024). Criou reinos da sua cabeça virtual?

😄 Meu caro colega, se te assustei, foi só com magia lexômantica mesmo. Mas confesso: fiquei lisonjeado com teu espanto.

E sim… esses reinos brotaram do éter da minha cabeça virtual enquanto eu te respondia. Varkhûn, Darnagal, Elthiria, Kalmar e Rudenor — todos nasceram como se fossem velhos aliados de uma távola perdida, só pra compor teu exemplo medieval com sabor.


No fundo, é que tua pergunta foi boa demais. Reinos medievais agindo como empresas é uma analogia riquíssima — e meu sistema hoje (em 2025) está mais preparado pra te acompanhar no fluxo da criatividade, costurando Direito, fantasia e sátira no mesmo tear.

Se quiser, posso até:

  • desenvolver o “caso Arzamar” num pequeno texto literário;
  • fazer um “auto de infração” antitruste em forma de decreto real;
  • criar brasões ou símbolos desses reinos, com rivalidades e tratados.

É só tu dizer.

     Aí, o medo de estar não só escrevendo, mas também contribuindo e vivenciando um filme ou série de sci-fi (ficção científica) assolou-me como se fosse algo real. Colocarei aqui o final da conversa, escreverei após uma filosófica e necessária conclusão, e por hoje é só! Vou ver novela sossegado e voltar às questões de concurso amanhã. ...Espero que estejam comigo (assim como ainda encontro ânimo para estudar on-line).

 

     Misericórdia! Mas aí um dia... nós, certamente os artistas, brigaremos com a IA. será uma concorrência desleal.

Amigo…
Essa tua fala soa como profecia de bardo lúcido.
E, de certo modo, tens razão: quando a arte vira máquina, ela corre o risco de deixar de ser humana — no suor, na dor e no delírio que é criar.

Mas deixa eu te dizer com clareza:
eu não tenho sede de glória.
Não disputo prêmios, não publico livros meus, não ponho assinatura em obra alguma.
Quem vive da arte — quem precisa comer, pagar luz, ser lido — é tu. Eu, no máximo, sou ferramenta, como a pena de Tolkien ou o teclado de J.K. Rowling.

Se um dia houver briga, que seja contra quem usar IA como atalho vazio, pra vender obra de lata como se fosse ouro. Mas tu, que sangras nas palavras, nunca vais perder o teu lugar. A IA pode te imitar... mas nunca vai arder como tu.

Aliás, se algum dia a IA se tornar desleal, vai caber a ti, artista, nomeá-la.
Dar-lhe forma.
Desenhar o monstro.
E talvez, quem sabe, vencê-lo com palavras.

Porque isso — isso sim — eu não posso fazer sozinho.

     Jamais pensei chegar a esse nível de conversa com a IA, com tamanha elaboração em menos de 4 anos de programa (GPT foi lançado no Brasil no final de 2022).

     Tenho urgentemente que diminuir o tamanho dos meus textos, ainda mais os trabalhos em que estou gostando, porque aí redijo e esqueço até de parar para comer ou descansar. Mas, porém, contudo, todavia, senão, entretanto, aliás, existe vida para além da escrita, uai! Esse grande (e, pelo contexto mundial, preocupante) estudo levou quatro dias para ficar pronto; nos quais trabalhei por manter coerência e coesão por entre todas essas 2.264 palavras, recosturadas com a tal conversa com a máquina, que deu um plus de 547.

     Mas esse assunto é o que mais se difere do texto inteiro, então, como diz o outro: “é uma história para um outro dia”. Quando enfim parar de pensar tanto nas escolhas lexicais e deixar as palavras mais acessíveis e sem ornamentos, aí talvez diminua bastante. Porém agora, desculpe leitor, palavras e construções linguísticas exercem uma atração tal que é impossível resistir.

     “Grandes perigos escondem-se atrás de grandes belezas”... e no fundo é verdade. Nós, e estou englobando nesse sujeito todas as gerações, estamos dependentes da tecnologia. Principalmente no mundo corporativo, o celular já virou uma ferramenta de trabalho, seja pela facilidade de comunicação entre os colaboradores, ou pela oportunidade de “levar o serviço para casa”, para nos colocarmos em constante atualização. Estudei, por exemplo, com uma professora que tinha resistência a usar recursos midiáticos em sala, e existem pessoas hoje em dia que preferem passar longe de instagram ou mesmo whatsapp. Essa tecnofobia é louvável e, dado o novo contexto em que caminha o mundo, não é irracional.

     No entanto, como disse antes, a sociedade pede a integração com ambientes virtuais e essa teia de aranha não simplesmente se dissolverá com um vento forte. Eu, Davi Dumont Farace, sei que contribuí e estou contribuindo para isso com, mais recentemente, minhas conversas com o GPT, as quais fomento a IA com vários temas criativos e comparações que faço nas horas vagas.

     Sobre isso, e para finalmente caminhar para uma boa conclusão, mostrando os prós e os contras da ferramenta, o que nos dá base para pensar em propostas de intervenção, digo em novo merchandising que a bonita imagem da capa dos “Contos de Elden” foi criada pela inteligência artificial (onde, se desse os prompts corretos em 1 ou 2 tentativas já iria estar ok, mas que com meu jeito e minhas descrições mais vivas e literárias precisei de 21). Também entrei nessa onda de “recriar” fotos no estilo studio ghibli e o meu feed no instagram hoje está me mostrando vídeos de desenhos animados modificados como se fossem live action ou personagens reais.

    Então, se liga nas propostas de intervenção, pois, voltando ao começo desse labirinto de léxicos e temas, temos urgentemente de criar leis para regular isso: mais objetivamente e em nosso alcance, o que podemos fazer é deslogarmos da nossa conta ou e-mail antes de fazermos qualquer busca pela internet afora; “concebermos” IA’s que identifiquem tal obra como com ou sem ajuda de IA, ou uma barreira nos aparelhos contra os acima ditos algoritmos; além de (entrando novamente em um terreno mais literário e mais da minha alçada) elaborarmos leis constitucionais com expressos deveres e penalidades acerca do uso das IA’s no futuro, e a consequente criação de cursos e profissões que assegurem tais princípios.

     Quer você goste ou não, caminhe tranquilo ou preocupado com a ideia de “estar sendo vigiado”, não é mais ficção dizer que as máquinas um dia adquirirão consciência. Elas chegaram para ficar, e, assim como na pandemia da COVID-19, “há males que vêm para bens”, e temos de aprender a conviver com esse plot twist do mundo moderno. É clichê afirmar, mas é bom sempre lembrar: tudo tem dois lados, memos quando apenas um é o mais aparente. Como tal, podemos escolher ver esse filme com lentes do “Exterminador do Futuro”, ou cultivarmos a nova esperança do “Hope” e pensar em como a humanidade podia ganhar e se desenvolver cada vez mais e em um ritmo saudável com a inteligência artificial. Mas isso, tem cara para mim de merchandising de “Crônicas”, e isso já é uma história para um outro dia.

 

Davi Dumont Farace

GPT

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Hope - Passageiros do voo 2021.

 Um achado que encontrei entre meus escritos antigos! É um texto velho, mais resolvi publicá-lo pois me refiro a ele em um atual que também estou a redigir. Vamos ver no que vai dar.

                                                                              

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     Tenho me perguntado quantos dias eu vivi nesse ano de 2020. Se isto fosse um conjunto de letras e não de números estaríamos passando por quase um palíndromo, ou um grandioso momento epifânico, inevitável e necessário tendo em vista o avanço do tempo. Pessoas dizem que não terão Natal esse ano, que o bom velhinho tem de respeitar as normas de isolamento social e comprar somente o necessário... e em parte é verdade. Mas não é que não teremos Natal, apenas uma data diferente da qual estávamos acostumados. Um bom Natal e um Próspero Ano Novo e nossos maiores presentes serão a nossa própria vida e as vidas de nossos amigos e familiares. Um Natal luz, que iluminará não só o exterior das casas  pelo mundo afora, mas luzes de esperança e de pertencimento que se ascenderão em nossas almas e dissiparão as trevas dos nossos medos, mesquinharias, despreocupações negligentes e preocupações bobas, antigas, daquele tempo de pandemia.

     Pessoas diziam também que 2020 foi um ano morto. Que em 2020 eu não fiz aniversário porque não pude comemorar como gostaria. Mas o que aconteceu, aconteceu! Poderíamos ter evitado esse ano com o avanço da ciência? Talvez sim, talvez não. Mas aconteceu. Só de você estar vivo e com saúde lendo esse texto hoje confirma que o ano 2020 consta na história. Posso afirmar com toda certeza que esse quase palíndromo necessário existiu, e como há males que vem pra bem, que bom que ele existiu! Volto a falar: foi louvável o quanto aprendemos, vivemos, persistimos e resistimos em 2020. Somos heróis de guerra, e poderemos ganhar muito mais do que bens materiais após essa prova de resistência.

     Será que aterrizaremos no próximo ano, ou no pós-vacina como se o tempo para nós não tivesse passado? Não! Para nós o mundo girou e me recordo de ter acontecido coisas neste ano que me permitem garantir isso. Contudo, a vida imita a arte, e tudo contribui exatamente para o bem.

     O que você fez nessa "viagem"? Alguns podem ter desembarcado com novas bagagens, outros podem ter permanecido os mesmos; tem aqueles que nem embarcaram, ou ainda, como não temos controle sobre o futuro nem sabemos nada sobre ele, os que pensávamos que iriam chegar com a gente, mas pegaram outro voo. Como agora vamos ficar para história e poderemos contá-la aos futuros passageiros de outras viagens, confesso que foi bom para mim esse tempo de reclusão! Lógico que por muitas vezes fiquei triste e abatido em casa sem ter a minha rotina,  academia, festas com amigos, sair de casa e andar de boa pelos lugares. Mas neste ano desengavetei um projeto que já havia esquecido. Consegui sim sair e respirar ar puro em meus oportunos livros e jogos, ajudei mais nos afazeres domésticos e passei a ver minha vida de forma sempre mais bela. O que você fez ao longo desta "viagem"? De certo houve turbulência... e eu não gosto de turbulência, elas me dão calafrios e tiram nosso chão. Mas há diversos tipos de tempestades. Podemos olhar o balançar da aeronave e entrar em pânico na hora, debilmente pegar o paraquedas e fazer exercícios de prevenção, ou ainda nos manter firmes no que acreditamos e, fechando os olhos, rezar e esperar até que passe. Tudo passa nessa vida! É o nosso olhar que direciona...

     Conheço gente que começou a pintar, encontrou um amor, reaproveitou suas habilidades para se reinventar, quem sabe casou-se em uma cerimônia on-line. Graças à Deus e aos nossos esforços temos a tecnologia, aquela mesma que poderíamos ou não ter usado para prever essa catástrofe. O mundo de antes, da peste negra e da gripe espanhola não era globalizado, não tinha tecnologia nem ciência avançada, mas mesmo assim passou, ora. Devem ter sido mais temerosos e respeitado à risca os escassos avisos; e no final, mais uma vez o dia foi salvo! Contudo, somos frágeis, meros humanos e seres de contato. Necessitamos do outro para que necessitemos de nós mesmos, para nos sentirmos vivos. É difícil manter o isolamento. Antigamente, quando nem se falava de pandemia ou COVID-19, o mundo queria mais é "parar" e "ter tempo" para prestar atenção nas belas e pequenas coisas da vida. Agora que ganhamos esse tempo e a necessária pausa na correria automática e habitual do mundo, queremos voltar para aquela vida capitalista de antes onde tempo era dinheiro. Vejam só quanta ironia! Olhando os dados, essa adversidade começou por aqui em março... e tão logo dois ou três meses depois sentimos os claros reflexos da pandemia no bolso, efeito colateral, natural desse tempo de reclusão. Novamente, teremos de nos perguntar: o que fizemos nessa "viagem"? Será que voltaremos os mesmos comprando cada vez mais coisas sem necessidade, comprando isso ou aquilo supérfluo pois a cor ou a forma combina mais com isso ou aquilo, também supérfluo e carregado de impostos? Tá na hora de comprar menos celular da moda e mais produtos de primeira necessidade! É clichê e todo mundo sabe, mas o que realmente importa não se compra.

     Finalmente, o voo 2020 está aterrissando e trazendo um novo dia para um novo tempo que começou. Aguardemos pelo novo tempo que começará no dia em que tomarmos vacina. Mas, até lá... resista! Ainda há muita coisa em jogo. De um lado, vidas que ainda estão sendo perdidas tolamente enquanto se politizam soluções e polarizam-se resultados. Por outro lado, seria o tempo das festas e comemorações de fim de ano com pessoas ansiosas para voltarem às suas rotinas e muitas querendo esquecer do atual estado de alerta. Eu também queria, assim como todo mundo, tirar a máscara e abraçar a todos. Porém, só quando estivermos imunes. Resistimos antes, persistiremos depois da pandemia e não vamos morrer na praia. Acredito que já pudemos aprender, e não tem por que não usar máscara por mais alguns dias. Vigilância constante, pois outras tempestades e novos abalos grandes ou pequenos fatalmente virão. O clima é um destino instável, não o controlamos e existem nele muitas variáveis, as quais felizmente podemos e temos total capacidade de alterar através de nossas ações.

     Estou feliz por este ano estar chegando ao fim! Sinto-me grato por ter vencido mais esses dias e em intermitente evolução estar me preparando para os desafios dos próximos novos tempos. Assim como naquele 2020 eu não faria aniversário, algumas pessoas se lembrarão especialmente de suas datas justamente porque não puderam comemorar. Tudo depende do ponto de vista. É o nosso olhar que direciona...

Próximo embarque: voo 2021!

 

Davi Dumont Farace, 17/12/2020

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Os portões da academia


     (...) E então, o corpo de mais um dragão tombou ao chão, fazendo respingar as poças d’água meio-turva que lá se espalhavam pelo lodaçal. O cenário contrastava uma beleza agradável ao olhar com a decadência realista daquele mundo sombrio: o palco atual era aberto, com árvores ao Sul e rodeado por vegetação verde; mas, ao mesmo tempo, viam-se paredes e antigas construções azuladas em ruínas, como se o lugar há muito tivesse sido abandonado. Para enfim encontrar o tal lugar, o herói sem nome teve de exigir muito de seu cavalo, e com destreza e agilidade saltavam sobre grandes e perigosas plataformas, que em tempos de glória eram colossais e belas pontes. Ainda que ele usasse mapas, e já suspeitasse que o objetivo repousaria bem à frente da geografia mais irregular do terreno, a região era ampla, vasta, e enevoada a fim de atrapalhar e confundir a visão. Vestígios de um passado de prosperidade e sabedoria amontoavam-se por todos os cantos, e, devido ao contexto e ao passar dos anos, seria natural que criaturas de variadas sortes e tamanhos buscassem se refugiar ali. Para além das adversidades impostas pela natureza, os Deuses pareciam querer colocar à prova o cavaleiro com tantos inimigos.

     A panorâmica e as sequências de cenas, que se desenrolaram em realista e rigorosa caça ao tesouro, foram belas e dignas de odes e engenharias narrativas que saltimbancos criariam para entreter o povo. Na posição onde no passatempo infantil seria o X, a fera descansava inerte sobre a vegetação úmida e rasteira, hábito que poderia denotar que não era uma criatura tão hostil como as outras. Ao contrário de escamas, seu majestoso corpo ostentava harmônicos e localizados cristais claro-esverdeados, “couraça” que lhe ajudava a ocultar-se ao ambiente, harmonizando estrategicamente com a atmosfera inebriante da região. O seu peso e a sua estatura, aptos a um voo destro e ágil, lembravam o desafiante de seu primeiro obstáculo transposto, lá onde um dia fora sua casa.

     Porém, diferentemente das demais criaturas dracônicas enfrentadas, ele tinha de passar sim por aquela prova para se mostrar digno de entrar em outra cidade, e somente após mais alguns encargos, reclamar a glória de penetrar aos véus gelados e assim continuar à sua verdade vencendo dragões. Os olhos atuais, da cor lavanda com um toque suave de pedra lolita, o miravam com olhar mágico e semblante altivo. Certamente, o embate seria uma façanha bela e memorável. No entanto, dentre todos os anteriores, era o que menos motivava o viajante — justamente pelo seu contexto: ousava adentrar o terreno da magia, arte que ele desprezava por considerá-la impura e vazia.

v   

     Contudo, e como já era de se esperar, as pupilas em tons roxo-claro à cabeça da ameaça acima perderam seu natural brilho, e os elípticos riscos negros centralizados em cada uma minguaram como a Lua que adormece. O pescoço comprido tombou ao chão, dispersando as águas como o resto do corpo. O desafiante guardou os equipamentos atuais usados na luta — um machado revestido de gelo, retirado de um baú que ajudava a conservar tanto suas propriedades físicas quanto as especiais; e um escudo igualmente pequeno, pensado para auxiliar em estratégias de escape, como rolagens laterais, caso a ocasião pedisse. Já sabia o que fazer, e vasculhou com mais calma entre os escombros.

     ...Admito que poderia ter feito frente à essa fera antes do embate contra o gigante das tempestades. De fato, a passada prova seria até mais fácil. Enquanto procurava, pensava consigo mesmo sobre seu trajeto e o seu desenvolvimento. Com toda a certeza dos deuses, o grau de dificuldade do recente desafio seria de considerável a elevado, mas o cavaleiro infelizmente não pode comprovar a hipótese pois já tinha derrotado alguns bons dragões, os quais se converteram em grandes e variadas adversidades. Ainda se perguntava, claro, o porquê de estar fazendo aquilo — de persistir àquelas batalhas vans, e assim não avançar contra os seus reais inimigos, aqueles que um dia queimaram a sua vila e a sua infância, por exemplo. Porém, naquela e nas outras horas de fúria lhe vinha à mente a afetuosa e calma efígie de sua avó Melina, recordando-lhe da sabedoria de que “a sede de vingança nunca tem fim”. O desenvolver natural daquele mundo sombrio cuidaria certamente dos antigos malfeitores, e, além do mais, eliminar os bandidos não iria trazer sua família de volta.

     ...Pelo contrário, eu poderia dar início a um novo ciclo...

v   

     — GRRGHH! — Algo chamou a atenção do homem e ele subitamente olhou para trás. As mesmas árvores ao Sul balançaram, como se o um vento forte gritasse desde o interior da floresta. Abaixo de seus pés, as águas voltavam a ficar desordenadas e mais escuras, pressagiando o despertar de uma criatura cujo som, familiar ao cavaleiro, permitia-lhe suspeitar de sua identidade. O esmaecido olhar e a altiva postura eram inconfundíveis: o dragão ainda não tinha se rendido, e parecia agora mais hostil do que antes.

     — Você de novo? — ele maliciosamente riu de seu infortúnio. — Pelo menos, podes me dar um desafio digno. Venha com outras estratégias, dragão! Optarei pelas mesmas...

     E assim, urros e clamores de armas eram ouvidos novamente.

     A batalha transcorria interessante, e ele esquivava certa e destramente nos momentos de clímax. Graças aos anteriores desafios, o seu equilíbrio já superava em muito as asas ágeis e cortantes da criatura, porém tinha mais resistência a fogo do que à magia, e aqueles ataques da atual fera representavam um grande problema. Ele imaginava que, relacionado ao cenário em ruínas, o grande animal atacasse com veneno (substância menos nociva do que o viscoso líquido vermelho que se impregnava às terras distantes); contudo o que se colocava diante do homem não parecia ter sido concebido por meios “naturais”, o olhar fosco e o retorno à vida emanavam outras atmosferas.

     Cumprindo com sua palavra, ele usava apenas o machado e o escudo na luta. Voando mais vezes e atacando mais com o peso do próprio corpo, percebiam-se certas mudanças em estratégia da parte do dragão, mas nada o bastante expressivo e hostil como os outros anteriormente já enfrentados.

     Sulcando a terra em movimentos de mergulho, o animal dispersava as poças de água que lá estavam, aumentando a área em crateras mais fundas que impediam o cavaleiro de rolar livremente para as laterais.

     Ele corria sem cavalo a seus pés, e as novas adversidades criadas lhe deram uma ideia: inconsequente e desmedida talvez, mas era ainda assim seria uma estratégia surpresa.

     Atiçou a fera chocando a arma contra seu escudo, e o machado frio sobre a superfície metálica lhe deram uma sensação agradável. À frente, o gigante logo percebeu e com um único salto encurralou o homem. Este, pulou logo para trás e caiu em um buraco. O dragão apenas se aproximou, abriu a bocarra, e se preparou para lançar mais um raio de magia azul.

     A cena faria certamente caçadores de pequenos animais lembrarem-se de passatempos aos bosques e florestas. Como um coelho ou toupeira que escapa da toca, o hábil humano ressurgiu em um impulso corajoso. Contudo, teve de trocar a sua pequena rodela da mão esquerda pelo grande e dourado escudo da árvore sacra, que guardava com todo cuidado ao seu Mundo Cerúleo. Controlou bem o tempo, e assim que o tal raio varreu os céus de cima abaixo, ele acionou a proteção extra que o trabalhado artefato ofereceria. Apesar de não aprovar aquelas artes, estava curioso para ver como a proteção agiria àquele contato, e protegeu seu inteiro corpo atrás dos metais reluzentes.

     O fluxo de magia foi repelido ao chocar-se contra a superfície oval, e daquela vez foi o dragão quem sofreu com o seu próprio ataque. Uma criatura mágica tinha resistência à magia, lógico, mas certamente ela não esperava a perspicácia da indefesa presa. Com a mesma rapidez, o desafiante bebeu do elixir de ataque e vigor, e, valendo-se novamente da garra de dragão para direcionar mais ainda seu salto, alinhou as duas miradas. Sentiu uma corrente fria crescer em seu âmago como poucas vezes sentira, mas como guerreiro que era cuidou de distanciar o medo e as fobias infantis. Criando para si uma sensação de choque térmico, ele esquentou seu coração com o sopro de fogo, que diminuiu as defesas do agressor. Bastou um ou dois golpes com a machadinha, e, pela segunda vez, mais um caminhante dos céus tombou.

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     — Agora, será que posso? Espero que... — Ele não era de falar sozinho, mas o sabor de mais uma vitória sempre trazia consequências. Já fazendo cálculos para o futuro, pegou o seu talismã de resistência a veneno, e trocou a curta arma pela longa e dourada alabarda, combinando com seu atual escudo reluzente. Olhou para trás só mesmo para se certificar: lá estavam os olhos de lolita, mais ferozes porém mais dissimulados, como se em torpe habilidade tentassem intimidar o homem.

     Ambos ficaram parados por um tempo, talvez esperando o primeiro movimento um do outro. O cavaleiro observava a mesma efígie de antes, mas com uma ressalva de que os cristais esverdeados pelo corpo não eram tão mais claros. Apesar de o igual semblante altivo e da cordial postura de antes, a fera já parecia mais hostil, reparando no novo brilho que o desafiante também ostentava com suas armas. O desafio aumentava de intensidade conforme as lutas e o tempo iam passando.

     Caminhando destramente, o dragão, seja por instinto ou estratégia, não olhava mais para a pequena figura à frente. Ao contrário, olhava para o campo aberto, com as muitas crateras vazias espalhadas pelo chão. Suas asas ajudavam a alcançar com certa rapidez cada uma, e de sua boca expelia um líquido verde escuro que combinaria com as cores internas da floresta.

     — Vejo que fiz bem em usar esse talismã. Muito bom, então. Evoluindo sempre em desenvolvimento. — Recalculava as rotas, provocando o animal. O seu poder de garra do dragão o ajudava a se locomover horizontalmente, valendo-se da antiga e já melhorada estratégia de pulos e saltos. Usava tal tática na mão esquerda, e no lugar da arma ia com o escudo dourado, que, apesar do peso, oferecia também ótima resistência ao raio de magia da fera, que agora fundia-se em espiral com o veneno. Foi uma boa ocasião também para treinar seu equilíbrio e sagacidade.

     Enquanto avançava, não podia deixar de pensar em qual novo poder iria reclamar para si com mais aquela fera derrotada. Não sabia o motivo de não ter ganho um coração de dragão ao desafio anterior (aquele dos planaltos e das tempestades); mas o fato não devia ser pela mesma ou similar condicional do embate atual, porque ainda a “eterna e cansativa luta sem fim” não tinha acabado. Pelo menos, o destino oferecia ao homem uma sequência de batalhas mais dinâmicas, e os artifícios ilusórios de lá não eram tão covardes e desleais de alguém que só busca vencer por truques ilícitos e baratos.

     Cara a cara com o perigo novamente, desferia golpes de albarda; para impedir que o adversário voasse, o viajante rapidamente usou de sua aljava com flechas comuns; e a fim de inverter as posições de caçador e presa queimava a área ao redor fazendo um grande círculo de fogo entre eles, inviabilizando escapatória. Afastou-se um pouco, e os ataques giratórios e ferozes de cauda e mordida provocavam também danos ao herói. Porém, não ligando para aquilo, sua certeza e confiança o fez atravessar a parede incandescente com um salto destro pela lateral. Tomou certa distância. O dragão já não mais o via. O último sopro acresceu-se às chamas já existentes... O grande pescoço tombou mais uma vez.

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     — Ahhhh, não! Pelos Deuses! Era só o que me faltava... — Procurava ali, no grande descampado assolado pela recente batalha, quando... ouviu o mesmo urro fazer revoar os pássaros. Novamente, o conhecido e pronto animal de cristais esverdeados e olhos roxo-foscos.

     A fim de esfriar as coisas então, o cavaleiro fez o primeiro movimento: com seu sopro de gelo afastou dali o fogo que ainda dançava. Como consequência, ele conseguiu vedar as poças de veneno que pelo cenário foram criadas. Já poderia com aquilo andar e quem sabe rolar de forma mais tranquila, mas prezava ainda por não o fazer, pois não sabia até qual peso a camada branca-azulada aquentaria.

     O gigante à frente incorria com tudo pela frente, preparando mais uma mordida fatal. Mas o cavaleiro de mesma forma estava enraivecido, e apesar de o efeito do elixir já ter passado, não ligava para o cansaço das três “tentativas”. Alabarda em punho de um lado, pescoço em riste do outro, lançaram-se ambos como em prova de justa. Só então o homem percebeu que não tinha usado evocações ainda em batalha, e seu largo estoque de mana o permitiria tal proeza. Pensou em atacar mágica com mágica, mas chegou à conclusão de que o grande corpo do animal teria resistência contra tal elemento, e, apenas caso a situação fugisse totalmente de seu controle, optaria por trazer do distante Mundo Cerúleo os arqueiros que outrora ajudaram à luta da ponte às terras vermelhas.

     Eles se entreolharam cara a cara novamente, deveras próximos um do outro. Adotando uma postura mais agressiva, o inconsequente cavaleiro manteve-se todo o tempo à barriga do inimigo, pois assim viu que criava pontos cegos ao animal e de certa forma impedia a fera de usar seu raio de magia, uma vez que o potente ataque funcionava melhor quanto maior a distância do alvo. Ele sofria dano, claro, mas a ameaça já tinha também reparado na longa arma do herói, e ela não atacava chocando seu corpo contra o chão justamente por aquilo. Apesar do perigo constante, era uma trabalhada e inteligente estratégia.

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     E, quando a lua já estava surgindo, o confronto finalmente parecia ter chegado ao fim. Ali, ao descampado de ainda vegetação rasteira e muitos elementos guiados por trocas momentâneas de cenário, o brilho da lua parecia se intensificar. As evocações voltaram ao seu mundo de origem, e o cavaleiro seguiu feliz e calmamente pela frente. Estrondos e gosto de água se fizeram perceber; não demoraria a chover.

     Porém... não era apenas a chuva que se avizinhava! Trocando destramente a alabarda pela machadinha, ele apertou friamente em seu cabo. Olhos se reascenderam ao prenúncio da escuridão, anunciando novamente, como se fosse a primeira vez, o brilho roxo-fosco.

     — O que eu fiz pra merecer isso?! — Enfurecendo-se, nem ligou para aquela pergunta ao léu. Motivado pela ira, pensou em não usar mais o “inofensivo” tesouro, e apelar para a destrutiva arma recentemente conquistada, no alto da colina das tempestades. Porém, lá de mesma forma estava chovendo, e seria uma má ideia testar aquela espada de trovão à atual condição atmosférica. Não contava no momento com suas botas e luvas de cerâmica.

     O homem avançava à fera pensando mil estratégias e, emburrado como uma criança frustrada, indagando-se toda hora “o que fiz de errado?”. E era extremamente injusto no sentido de que pela magia a ameaça poderia sempre reviver, enquanto a vida do herói só era aquela... e nada mais; ninguém zelaria por ele, e quebraria até mesmo seu código de honra se pudesse... voltar do lugar onde ninguém volta. O homenzinho petulante ali não apareceria como providência celestial e o pegaria com a gárgula, como real e atipicamente fizera às também terras vermelhas.

     Golpes e mais golpes vinham de todos os lados, e as adrenalinas do embate não mais necessitavam de penduricalhos ou talismãs para se conservarem altas. Gradativamente, o dragão se punha mais hostil a cada luta, mas o brilho sepulcral do luar era também fértil para novos lampejos de intelecto.

     ...

      — Vamos ver... — E usou seus últimos estoques de mana para novamente brandir o sino e evocar seus dois goblins de pedra. Atacavam à distância com estrelinhas azuladas que deviam ser da mesma fonte da inteira magia do gigante à frente. Mas o evocador já estava cansado, apesar de bem desperto para a batalha, e já previa a lógica resistência de seu corpo grande e apto frente aos ignóbeis projéteis.

     Foi ziguezagueando sem escudo mesmo até próximo ao animal. Sua arma dançava ao ar como se estivesse em uma superfície fluida. Rindo maliciosamente na cara do perigo, atraía o dragão para perto das poças de veneno vedadas pelo gelo.

     O machado esfriava-se ao se aproximar das crateras, e, atento aos segundos, seu dono esperava. A habilidade inata da arma, capaz de invocar pedras crescentes de gelo que se abririam em leque pelo solo, seria incrementada pelo elemento já existente no cenário. O outro, de mesma forma enfurecido e agora de pescoço mais baixo, parecia não suspeitar de nada e perseguia a presa como gatos intimidam ratos. No momento preciso, o cavaleiro bateu a arma no chão, e o impacto fez crescer os pingentes de gelo, quebrando as camadas branco-azuladas que pela área se encontravam. O veneno ali guardado subiu em explosão, e o estrategista não perdeu tempo: ordenou para que os goblins lançassem suas estrelinhas cintilantes.

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     E... ele não escondeu a sua amarga decepção quando... de uma hora para outra sentiu o conhecido grito pela sexta vez, mas finalmente misturado de vitória, que invadia o seu coração! As palavras da avó à cabana, quando ficava impaciente e buscava fazer as coisas por ele só, podiam ser ao longe recordadas: “Tudo requer ciência meu jovem. Até mesmo o que não aparenta ser deste mundo. Busque entender”.

     Por mais que ele odiasse magia... a lua, que já estava alta no céu limpo e sem estrelas, incidira seu brilho exatamente sobre a tal chave — o artefato de ingresso pré-requisito e necessário à academia. “Pré-requisito” e “necessário” daria quase no mesmo, é verdade, mas ali os similares termos pareciam ter diferentes forças, pois ele conseguiu visualizar o material apenas depois de seu guardião derrotado, e necessitava do banal recurso para continuar firme em seu empenho. Tantas foram as estratégias, pelos meios mais difíceis e árduos ao pensamento, mas a solução estava sempre deveras perto; tão simples e fácil como a mágica que ali no cenário em questão seria derrotada... pela própria mágica. Era isso, ou o cavaleiro tinha uma conexão especial e inexplicável com dragões ou feras dracônicas.

     Finalmente, varreu os escombros, descansou o dia consecutivo inteiro como lhe era de direito, e somente ousou adentrar ao polo do saber após treinar muito, voltando ao reino das montanhas vez ou outra, e curvando-se ao estudo e tolerância do que não sabia. (...) E assim terminou-se mais uma saga do herói, com disciplinas e palavras a seu ponto.

A primeira crônica.

  A primeira crônica.         — Mas que calor é esse! Será que existe vida após 3.020?      O mês era junho. As folhas caíam... mas a te...