segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Hope - Passageiros do voo 2021.

 Um achado que encontrei entre meus escritos antigos! É um texto velho, mais resolvi publicá-lo pois me refiro a ele em um atual que também estou a redigir. Vamos ver no que vai dar.

                                                                              

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     Tenho me perguntado quantos dias eu vivi nesse ano de 2020. Se isto fosse um conjunto de letras e não de números estaríamos passando por quase um palíndromo, ou um grandioso momento epifânico, inevitável e necessário tendo em vista o avanço do tempo. Pessoas dizem que não terão Natal esse ano, que o bom velhinho tem de respeitar as normas de isolamento social e comprar somente o necessário... e em parte é verdade. Mas não é que não teremos Natal, apenas uma data diferente da qual estávamos acostumados. Um bom Natal e um Próspero Ano Novo e nossos maiores presentes serão a nossa própria vida e as vidas de nossos amigos e familiares. Um Natal luz, que iluminará não só o exterior das casas  pelo mundo afora, mas luzes de esperança e de pertencimento que se ascenderão em nossas almas e dissiparão as trevas dos nossos medos, mesquinharias, despreocupações negligentes e preocupações bobas, antigas, daquele tempo de pandemia.

     Pessoas diziam também que 2020 foi um ano morto. Que em 2020 eu não fiz aniversário porque não pude comemorar como gostaria. Mas o que aconteceu, aconteceu! Poderíamos ter evitado esse ano com o avanço da ciência? Talvez sim, talvez não. Mas aconteceu. Só de você estar vivo e com saúde lendo esse texto hoje confirma que o ano 2020 consta na história. Posso afirmar com toda certeza que esse quase palíndromo necessário existiu, e como há males que vem pra bem, que bom que ele existiu! Volto a falar: foi louvável o quanto aprendemos, vivemos, persistimos e resistimos em 2020. Somos heróis de guerra, e poderemos ganhar muito mais do que bens materiais após essa prova de resistência.

     Será que aterrizaremos no próximo ano, ou no pós-vacina como se o tempo para nós não tivesse passado? Não! Para nós o mundo girou e me recordo de ter acontecido coisas neste ano que me permitem garantir isso. Contudo, a vida imita a arte, e tudo contribui exatamente para o bem.

     O que você fez nessa "viagem"? Alguns podem ter desembarcado com novas bagagens, outros podem ter permanecido os mesmos; tem aqueles que nem embarcaram, ou ainda, como não temos controle sobre o futuro nem sabemos nada sobre ele, os que pensávamos que iriam chegar com a gente, mas pegaram outro voo. Como agora vamos ficar para história e poderemos contá-la aos futuros passageiros de outras viagens, confesso que foi bom para mim esse tempo de reclusão! Lógico que por muitas vezes fiquei triste e abatido em casa sem ter a minha rotina,  academia, festas com amigos, sair de casa e andar de boa pelos lugares. Mas neste ano desengavetei um projeto que já havia esquecido. Consegui sim sair e respirar ar puro em meus oportunos livros e jogos, ajudei mais nos afazeres domésticos e passei a ver minha vida de forma sempre mais bela. O que você fez ao longo desta "viagem"? De certo houve turbulência... e eu não gosto de turbulência, elas me dão calafrios e tiram nosso chão. Mas há diversos tipos de tempestades. Podemos olhar o balançar da aeronave e entrar em pânico na hora, debilmente pegar o paraquedas e fazer exercícios de prevenção, ou ainda nos manter firmes no que acreditamos e, fechando os olhos, rezar e esperar até que passe. Tudo passa nessa vida! É o nosso olhar que direciona...

     Conheço gente que começou a pintar, encontrou um amor, reaproveitou suas habilidades para se reinventar, quem sabe casou-se em uma cerimônia on-line. Graças à Deus e aos nossos esforços temos a tecnologia, aquela mesma que poderíamos ou não ter usado para prever essa catástrofe. O mundo de antes, da peste negra e da gripe espanhola não era globalizado, não tinha tecnologia nem ciência avançada, mas mesmo assim passou, ora. Devem ter sido mais temerosos e respeitado à risca os escassos avisos; e no final, mais uma vez o dia foi salvo! Contudo, somos frágeis, meros humanos e seres de contato. Necessitamos do outro para que necessitemos de nós mesmos, para nos sentirmos vivos. É difícil manter o isolamento. Antigamente, quando nem se falava de pandemia ou COVID-19, o mundo queria mais é "parar" e "ter tempo" para prestar atenção nas belas e pequenas coisas da vida. Agora que ganhamos esse tempo e a necessária pausa na correria automática e habitual do mundo, queremos voltar para aquela vida capitalista de antes onde tempo era dinheiro. Vejam só quanta ironia! Olhando os dados, essa adversidade começou por aqui em março... e tão logo dois ou três meses depois sentimos os claros reflexos da pandemia no bolso, efeito colateral, natural desse tempo de reclusão. Novamente, teremos de nos perguntar: o que fizemos nessa "viagem"? Será que voltaremos os mesmos comprando cada vez mais coisas sem necessidade, comprando isso ou aquilo supérfluo pois a cor ou a forma combina mais com isso ou aquilo, também supérfluo e carregado de impostos? Tá na hora de comprar menos celular da moda e mais produtos de primeira necessidade! É clichê e todo mundo sabe, mas o que realmente importa não se compra.

     Finalmente, o voo 2020 está aterrissando e trazendo um novo dia para um novo tempo que começou. Aguardemos pelo novo tempo que começará no dia em que tomarmos vacina. Mas, até lá... resista! Ainda há muita coisa em jogo. De um lado, vidas que ainda estão sendo perdidas tolamente enquanto se politizam soluções e polarizam-se resultados. Por outro lado, seria o tempo das festas e comemorações de fim de ano com pessoas ansiosas para voltarem às suas rotinas e muitas querendo esquecer do atual estado de alerta. Eu também queria, assim como todo mundo, tirar a máscara e abraçar a todos. Porém, só quando estivermos imunes. Resistimos antes, persistiremos depois da pandemia e não vamos morrer na praia. Acredito que já pudemos aprender, e não tem por que não usar máscara por mais alguns dias. Vigilância constante, pois outras tempestades e novos abalos grandes ou pequenos fatalmente virão. O clima é um destino instável, não o controlamos e existem nele muitas variáveis, as quais felizmente podemos e temos total capacidade de alterar através de nossas ações.

     Estou feliz por este ano estar chegando ao fim! Sinto-me grato por ter vencido mais esses dias e em intermitente evolução estar me preparando para os desafios dos próximos novos tempos. Assim como naquele 2020 eu não faria aniversário, algumas pessoas se lembrarão especialmente de suas datas justamente porque não puderam comemorar. Tudo depende do ponto de vista. É o nosso olhar que direciona...

Próximo embarque: voo 2021!

 

Davi Dumont Farace, 17/12/2020

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